queria ser um cachorro sarnento. eu, você, nós. nós quem? eu, tu, a garota de quem você vivia falando quando a gente tava junto e depois quando não tava também. lá vamos nós, nós, tu, eu, a raiva faz suar o ciúmes também e não há tempo pra vírgulas que nem quando a gente tava junto mas agora o que me interrompe é meu coração batendo rápido e não beijos apertados no canto do teu elevador de chão de cor de ardósia. e enquanto conto os dias pra fazer vinte e quatro meses que você trocou a primeira palavra comigo você tá falando de seus outros planos com outra garota que você queria que eu fosse amiga. nojo, nojo, nojo, de mim, de você, de nós, de todo mundo. ninguém merece a vida que tem. nojo, nojo, o que eu te fiz pra você deixar de amar tudo o que fiz pra você? nojo, nojo, a vida é muito curta pra se estar com alguém que não quer estar com a gente. você me revira que nem um mendigo no lixo e seres humanos não deveriam passar por tudo isso. queria ser um cachorro sarnento, porque assim só me preocupava com minhas próprias pulgas e não com esse mundão gigante, sordidamente nojento
mas é tudo mentira
ainda te enfiava debaixo dos meus lençóis
em qualquer quinta-feira chuvosa
e ainda te pediria desculpas
por ter sido tão impaciente.
e lá vou eu, só eu, porque você se foi, junto com a outra, ela, aquela. e eu aqui sozinha chorando duas perdas simultâneas enquanto você já em outra, outras, trêbado e eu aqui me preocupando aonde você vai cair quando o que tem nas garrafas acabar. e rezo aos santos que nem sabia que existiam, a todas as formas de deuses pra ver se me trazem uma luz, um relento, um conforto pra me tirar dessa. mas aí vejo que só deixando de ser um ser, e como eu queria ser um cachorro sarnento, babão, pulguento,
debaixo da ponte
que eu gosto de imaginar
que você vai parar
quando um dia lembrar.
(de mim)
(mas eu e você sabemos que não)
Nenhum comentário:
Postar um comentário