sábado, 31 de agosto de 2013

Masoquismo poético.


Meu barato é escrever algo
que te faça lembrar dela
e eu me ferir toda depois
quando nem com os olhos
você conseguir disfarçar
e ter todos os motivos
pra me largar.

(mas deixa eu ficar?)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sócrates estava certo.

Mal deixamos as pessoas terminarem as frases ultimamente. Não é que queiramos falar, mas é que simplesmente não queremos mais ouvir. No entanto, não hesitamos em vomitar o que pensamos por aí, mesmo sem bom senso. O discurso é vazio e repetitivo. Pensar cansa e ninguém consegue mais dormir.  Queremos paciência, tempo e mais um bando de coisas mas não há foco pra nada. 

Tempo é perdido questionando o passado, imaginando porque nossos grandes amigos e grandes amores estão presos no ontem. Talvez eles simplesmente não mereçam um lugar no agora. E é estranho pensar que os grandes amigos e amores de hoje não pertençam necessariamente ao amanhã. O amanhã não é uma garantia e o passado já passou da validade. 

Perdemos o hoje com prazos, com a correria pra pegar o ônibus, pra chegar mais rápido em casa, para terminar de fazer o que “tem que fazer”. Temos pressa pra não fazer nada, pra ir pra cama pra ficar rolando de um lado pro outro, pensando nas mil besteiras que fizemos e falamos, nos sapos que engolimos e nas respostas que podíamos ter dado. 

Aparentemente, só nós mesmos somos sinceros, o resto é lorota. Afinal, furar fila da padaria nos faz mais malandros. Reclamações são constantes: no verão preferimos o inverno, e no inverno a gente quer praia. Dizemos não nos deixar levar pelos publicitários e filmes de romance. O experiente é mais atraente que o inocente.

Preferimos escolher o que quer sentir do que simplesmente sentir; desabafar com um estranho e pagar uns trocados do que se abrir numa mesa de bar. Queremos carinho, mimo, dizer que precisamos, que vamos chorar senão formos amados - ao invés, dizemos que vivemos bem sozinhos. Nos negamos demais. Fingimos que não nos importamos, porque aparentemente se importar indica fraqueza. Dizemos não nos acomodar. Nos escondemos em corações de pedra, sorrisos quadrados e infinitos discursos de "sou melhor que isso" ou "não preciso disso".

Tem aquele medo de parecer vulnerável e eu me pergunto porquê. Talvez nos envergonhamos de dizer que o mundo está ficando maluco mesmo e a gente está ficando junto. Aparentemente, a razão é mais digna de se ouvir do que o coração. 

A realidade nos assusta e nos jogamos na superficialidade. É tanto medo de se machucar que talvez jamais saberemos se a dor não valia a pena, se é que iria doer. Estamos perdidos, mas todo mundo parece saber apontar uma direção. A gente se prende ao não se prender. 

Perdemos tanto ficando presos numa cidade só, frequentando sempre os mesmos lugares, vendo a mesma gente. Tem um mundo com 7 bilhões de pessoas e nos sentimos mal quando nos apaixonamos pelo cara que 'tá sentado do nosso lado no ônibus. Parece que estamos vivendo de verdade, mas não conhecemos nem metade das pessoas, das sensações, dos lugares! Não vimos todas as obras, não lemos todos os livros, não ouvimos todas as músicas - que dirá ter sentido tudo isso. 

Parece que simplesmente "somos jovens" e isso serve de justificativa para alguma coisa. Para viver? Idade não me parece tirar esse direito. E nos achamos velhos e por isso sabemos de tudo: só pela idade? Viver não é um número. Nos preocupamos com a dengue mas não botamos terrinha no vasinho; com a memória mas ninguém monta quebra cabeça no tempo livre; com o câncer mas ninguém passa protetor solar antes de sair de casa; a gente diz que tem insônia mas acorda às quinze querendo dormir às dez.

Achamos, mas não encontramos. E no final das contas, perdemos. A gente esquece de como é bonito um sorriso sincero, da força das palavras e de como é bom chorar às vezes. Esquece que não tem nada de errado em precisar de alguém e que é bom cuidar e ser cuidado. E que é bom sentir o sol na pele, o vento, a areia nos pés, o cheiro da chuva. Coisas pequenas fazem a diferença. 

Nós não notamos a vida passar. E em vez de entregar-se à vida, a gente acaba a entregando por aí.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Impedida.

O tempo vai passar. Dizem que ele deveria curar. Na melhor das hipóteses, te ensinar alguma coisa. Você não vai saber dizer se funcionou. Sempre tem um perfume parecido, um verso que não te é estranho para dar aquela enfraquecida no coração quando você menos espera.

Quando isso acontecer, você vai passar na locadora e vai alugar todos aqueles filmes favoritos dele. Só pra ver como era. Não que ele não tenha tentado assisti-los com você antes, mas você nunca prestou muita atenção. Aquelas fantasias todas sem sentido, aquelas criaturas esquisitas... você tinha sempre outro dia pra entender. Não houve outro dia. Agora, deitada no sofá cinza sozinha, você assume pra si mesma:  "tudo bem, aqueles filmes até que eram divertidos."

Então, você tira do AV e joga para a programação paga. Tem uma maratona do programa favorito dele. As piadas são legais, mas você já conhecia todas. Podia ouvir a voz dele entre os famosos personagens. Imitações eram mais engraçadas. 

No toca-CD, discos das bandas que você amava odiar. As canções, agora, pareciam ter sido feitas pra você. E tinham um gosto amargo. Não era ele tocando no violão, sentado ali na varanda. Tudo bem, ele era meio desafinadinho mesmo. 

Nada disso era surpresa. Ele até dizia que aprender a gostar dessas coisas era só uma questão de tempo e maturidade. Você ainda se guiava pelo bom senso dele. O ponto todo, na verdade, é que você podia se esforçar o quanto quisesse para entender e gostar daquilo tudo, mas você sabia que ele não se surpreenderia ou voltaria por causa disso. Já era tarde.

E é por isso que, de todas essas coisas, só uma coisa causa confusão mesmo. É que ele também tentou, por meses à fio, te fazer entender futebol com o melhor time do mundo. Você nunca deu bola. Mais do que qualquer coisa, você jogava para escanteio. Só que até pro futebol você 'tava dando outra chance.

Fazer você gostar de ver jogo era o maior desafio dele. O seu também vai ser. 

Não é à toa: afinal, é pro Vasco que você tá tentando torcer... 

(Só queria dizer que não é difícil aprender a gostar de FRIENDS, de Green Day ou de histórias épicas. 
Difícil mesmo é tentar gostar de futebol vendo jogo do Vasco.) 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Tombos.

Se as linhas do papel me tentam,
as do chão me falham.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Vai saber.

A maior dúvida
ao se enamorar por alguém
que vive de compor
é nunca saber se os versos
são sobre você
ou outro amor.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Invenções raras.

Pensei ter escrito um verso subjetivo
bem de um jeito alternativo;
que todo mundo gosta afinal
mas acaba que é tudo igual:
se a vida se repete
só temos um banquete
de ciclos eternos
de passados modernos.

Podia ser genial,
mas segue o manual.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Caras prostradas da Ayrton Senna.


Tinha um senhor sentado com a cabeça encostada no vidro da janela do ônibus em que eu voltei pra casa na noite passada. Eram oito horas e seu olhar era vago. Mas não era um vago no sentido de "não estou pensando em nada": era uma espécie de "quero ir pra casa" melacólico, quase nostálgico, solitário. E "casa" no sentido de um lugar seguro e não de moradia. 

Parecia que aquele senhor de olhos míopes tinha passado a vida inteira sentado naquele lugar do ônibus, esperando o ponto certo pra descer. Ao mesmo tempo, não parecia querer descer, parecia estar ali pra fugir de alguma coisa, rumo a lugar nenhum. Não parecia cansado fisicamente, nem entediado. Muito pelo contrário: parecia estar pensando em algo denso, forte. Seus pensamentos pareciam ser tão altos que transbordavam no olhar, me incomodavam de alguma forma. Seu semblante era tranquilo mas parecia que a sua cabeça era um turbilhão e seu peito afundava em saudade. 

Imaginei que a esposa dele devia estar esperando-o em casa, com a janta quase pronta. Sua filha mais nova devia estar pra casar e ele estava perdendo um pouco o seu anjinho. Seu filho mais velho devia estar trabalhando em Curitiba fazendo mais dinheiro que ele jamais achou que faria, mas de alguma forma a vida tinha separado os dois de uma forma que, infelizmente, não era só física. Eram problemas cotidianos. Era mais do que isso também. 

Aquele senhor tinha entrado naquele ônibus e o engafarramento tinha se tornado um divã para suas saudades. Não era exatamente arrependimento, mas os carros passando mais rápido do lado de fora do vidro fazia parecer que ele podia ter tomado decisões mais justas com os seus sonhos, se ele não tivesse tido tanta pressa de correr para pegar aquele ônibus. Talvez se ele tivesse pego o outro, esperando quarenta e cinco minutos no ponto da Nossa Senhora de Copacabana, ele não estaria naquele engarrafamento. Tudo bem, talvez não conseguisse um lugar pra sentar, mas pelo menos não teria encostado sua cabeça no vidro e não estaria pensado no que não foi, julgando o que conquistou.

A vida segue. Que nem os carros do lado de fora, que nem a mão do guarda de trânsito que mandava a fila de automóveis perpendicular seguir. Que nem o engarrafamento que simplesmente faz um nó e passa, simplesmente, como se nada tivesse acontecido alguns quilômetros à frente. 

Algum tempo depois, o senhor percebeu que eu olhava intrigada para ele. Assim que nossos olhos se ligaram, eu desviei os meus, mas não por timidez: eles pareciam mais confusos ainda vistos de frente. Um lugar vagou e eu sentei-me. Mexi meus pés cansados, chequei o relógio: mais de meia hora no mesmo lugar. Suspirei. Fechei os olhos e quando os abri, minha cabeça também estava encostada no vidro do ônibus. 

Lembrei do olhar do senhor que tanto me incomodava. Me perguntei se aquilo ia me marcar pra sempre. Pensei que a gente corre pra pegar o ônibus mais vazio, pra tentar conseguir um lugar, pra tentar fugir do trânsito, pra chegar em casa mais cedo possível. Olhei para as incontáveis luzes de freio dos carros pretos, cinzas e brancos a minha frente. Vi a Ayrton Senna parada a minha frente. Olhei à minha volta, vi dezenas de pessoas cansadas, ansiando para chegar em casa. 

A preço de quê? De que adianta a pressa? De que adianta planejar e cronometrar cada sonho e objetivo que a gente tem, se a vida tem a sua forma de coordenar as coisas com os mil e um acasos e coincidências? Não é simplesmente fazer as pazes com o destino e deixar nas mãos dele, mas a julgar pelos olhos daquele senhor e do clima de cansaço naquele ônibus, eu poderia jurar que nada adianta as pessoas se martirizarem tanto quando as coisas não dão certo. Nem sempre é pra ser, às vezes é melhor que nem seja. 

Concordo: não é o tipo da realização filosófica que consola. 

Além do mais, quem disse que o raio do senhor não estava simples e naturalmente... cansado?

Problema ou ponto chave?

O problema não é achar que é pra sempre:
É querer que seja pra sempre.