sábado, 13 de junho de 2015

Samuel (Carta aberta II)

esta é uma carta aberta para dizer que eu sinto sua falta. que o meu eu-lírico já não me basta para te encontrar e te contar sobre a vida. esta é uma carta tomada por um orgulho que está sendo engolido, amargo, arrastado pela minha garganta. esta era uma carta para falar de coisas boas; na verdade, eu queria que não fosse preciso escrever uma carta. é que a gente vive em um mundo difícil: dizer que a gente sente falta é sinal de fraqueza, de ser necessitado, de não superação. uma vez eu perguntei pro renato russo, em um devaneio meu, porque é tão importante ser corajoso. todos nós temos medos que não cabem em nós. esta é uma carta para dizer que eu ouvi o disco novo do muse e achei uma droga. mas que descobri um cara que toda violão na rua da carioca que é a sua cara. esta é uma carta bem no meu jeitinho, bem de letrinhas minúsculas, tímidas, me perguntando se eu não tô invadindo sua vida para variar um pouco. esta é uma carta para saber como vai seu cachorrinho. eu tenho uma foto dele no meu mural que ainda não está pronto. esta é uma carta para dizer que eu lembro. ainda lembro. esta é uma carta para dizer que eu queria que você devolvesse minhas músicas, como eu sinto falta de ouvir uns grandes cantores porque você me ninava, desenhava as notas das músicas nas minhas costas antes de dormir. esta é uma carta para te lembrar que na penúltima vez que te escrevi algo você fugiu de medo e a última você provavelmente rasgou. esta é uma carta para dizer que eu nunca entendi nada do que aconteceu. e o que aconteceu não me agrada. a gente não muda os acontecimentos, não controla consequências, mas lida com elas da forma que pode. e esta carta é para dizer que eu não gostei da forma que lidamos com isso. esta carta é para dizer que se um dia você ler essa carta, é porque nossas vidas foram para lados opostos e eu não sei mais qual é o queijo que você procura primeiro no mercado, mas que eu queria ouvir dos seus lábios que você sente falta de trocar palavras comigo. só palavras mesmo; que você lesse e dissesse que entende, seja tudo, seja em partes, diga que concorda ou discorda. esta carta não é para entender o porquê de tudo, mas para dizer que tem muita saudade no meu silêncio. é que sem /poder/ dizer que sinto a tua ausência, tudo o que veio antes me parece muito sem lógica - e pior: fantasioso.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Não quero, não.

não quero mais quebrar meu coraçãozinho
não quero mais ouvir as músicas
e sentir ele
cabum
no peito.

não quero mais fazer birra
morder só pra fazer carinho
depois.

não quero mais sentir raiva de você
mas dizem que é preciso
ter amor próprio
e pra tê-lo
eu não posso amar você

eu não quero mais quebrar meu coraçãozinho
ler cartas de quatro anos atrás
e me perguntar
quando foi que a gente se tornou
estranhos.

estranho,
eu não quero mais quebrar meu coraçãozinho
dizem que a gente gosta de sofrer,
eu gosto é de viver.