quinta-feira, 19 de junho de 2014

Finitum.

nada que eu disser
fará você entender;
nada que eu escrever
vai fazer parar de doer.
só / se / você / permanecer.

eu disse que te amo há um ano atrás
e 365 dias depois eu não sou capaz
de trazer você de volta pra mim
e na real, assim,
eu não quero abraço
só um amor de aço.
e isso, só como nós
então não vem com essa de ficar a sós.

mas, se até a copa ficou inacabada,
e nós também, não é como se não desse pra fazer nada.
e se você ficar, a taça na sua mão
nem venha dizer não!
o brasil ainda pode fazer gol
vem comemorar debaixo do seu lençol
minha boca ali está, suave
e se você acertar na trave
vai ser que nem na primeira vez
vamos para paraty, talvez.

se tem que ter um fim
que seja para as coisas vis;
acredita em mim
eu te levo embora
só vamos ser fullgas
e não fugazes.

há tanto requeijão na geladeira
e doce de leite na compoteira.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Perpetuo.

tenho vontade de escrever à caneta
não me venha com essa caretada
pois eu não me arrependo
de nada.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Romeu.


Uma vez eu sai com um garoto e eu não deixei que ele pagasse meu café. Era a nossa terceira "saída": a primeira vez, quando nos conhecemos; a segunda quando nos beijamos e a terceira ali, acompanhados de uma penca de gente que caçoaria da gente se nos vissem de mãos dadas. 

Já era tarde e depois de sair do restaurante de quase todas sextas-feiras, me bateu vontade de tomar um café. Entrei na única cafeteria aberta que tinha por perto e, é claro, Romeu me seguiu. Adiantou-se à minha frente, abriu a carteira mas se sentiu impotente frente à tanta opção de café. "Nossa, pra mim um espresso já basta". Não a essa hora, meu amigo. Chega pra lá que eu resolvo isso.

Me virei. Romeu tinha os olhos confusos e olhava para mim curioso. Era um bom moço. Cavalheiro, do tipo que você leva para casa da sua avó no almoço do dia seguinte pós-Natal. Romeu fazia juz ao seu nome, seja lá o que isso queria dizer. Ele falava em "roubar beijos delicadamente", mas de certo, faltava-lhe coragem. 

Meu café eventualmente veio errado e semanas mais tarde eu descobri, encostada no carro de Romeu, que a doçura da bebida não era tão gostosa quanto os lábios dele. Macios, divertidos. Era bem fácil gostar de Romeu. Difícil era lidar com a falta de adrenalina em um mundo tão agitado quanto o nosso. 

Romeu realmente remetia, não só pelo nome, a uma outra época. Quando as tardes se arrastavam e as noites eram estreladas. E sua natureza desacelerada era desconcertante e praticamente incômoda. Não era possível alguém ser tão letárgico em pleno século vinte e um. 

Ou, talvez, eu que fosse afobada demais; e não era a Julieta de Romeu. Talvez o que tivemos estivesse mais para um amor de verão; alguém para observar o fim de tarde e o céu alaranjado, dar uns beijinhos, deixar na porta de casa e tudo bem, foi legal nosso casinho de final de semana.  

Só sei que, por ora, o café esfriou. E não houve quem o requentasse. 

domingo, 8 de junho de 2014

Domingos abafados.

você tem mania de música triste
e eu também;
isso não é ruim...

mas confesso
às vezes era estranho 
e quase doía
a gente todo feliz por aí 
depois de série de zumbi e sorvete
numa tarde abafada de domingo
e sussurros de 
como estávamos felizes
você vinha com canções
de compositores de outras terras
dizendo
como vida era um pesadelo 
e de como seria
se você morresse. 

eu não saberia. 
não há eu 
sem nós.