segunda-feira, 29 de junho de 2020

Astro rei.

você me chama de sol
mas sol eu não sou
pois sol sempre volta
e eu já não sei pra onde vou

sigo sem escolta
sem rumo
sem aprumo

domingo, 19 de abril de 2020

Raridade.

eu apaguei todos os textos que comecei
que falavam de você.

exceto esse.

domingo, 1 de dezembro de 2019

Piloto automático.

ela ainda está aqui usando roupas de segunda mão. eu não sei para onde o tempo foi. as fotografias parecem retratar outra vida - uma que não é minha. os tempos se tornaram estranhos - o quanto brigaríamos por conta de política? as roupas estão cada vez poindo mais. o timbre da voz é algo esquisito para se lembrar. a tecnologia ajudou com os áudios de whatsapp - nunca achei que iria darplay tantas vezes em um "tô esperando a van lotar, daqui a uma hora tô em casa". teve um dia que você só não voltou. e essa ausência - agora eu me sinto culpada por ter me acostumado a ela, tão rápido - permanece. digo, me acostumei, mas não me habituei, se é que isso faz algum sentido. digo que ela ainda está aqui porque talvez no fundo eu saiba que ela queria que fosse por pouco tempo. aprendi que éramos tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes - as ironias da vida. fecho o olho e penso o que você faria no meu lugar. fecho o olho e imagino a vida com você aqui - é muito estranho que ela já pareça imaginável. eu secretamente sabia que você se iria antes dela, só não achei que ia ser tanto tempo antes assim. você a deixou com um caminhão de tempo pela frente - e eu não sei lidar com esse tanto de tempo. eu sinto que vivia com alguém que estava louco para encontrar outro alguém que não está mais aqui. e agora, isso se repete, mas a matemática está ganhando do lado daí. que fraqueza que isso me dá. talvez se eu não tivesse tanto medo de dor física, já teria cortado meu próprio pescoço - mas fico pensando na sujeirada que alguém teria que limpar. pois é. depois que você lida com a morte você fica calculando seus passos para não deixar trabalho pra ninguém. não, não, eu não acho que você seja um trabalho. já fiquei com raiva, sim, porque eu tenho dificuldade em não achar que você queria partir. e é isso o que mais me dói: de saber que eu não fui capaz de te manter por perto. não adianta eu te dar uma atualização do que aconteceu por aqui. você sabe. sabe dos apertos, dos medos - das conquistas também. a vida é terrivelmente inevitável sem você. e será sem ela. mas que buraco que cava no meu peito, imaginar uma vida - inevitável - sem os três amores da minha vida. eu não quero ser a última. eu não quero morrer sozinha. a constatação é perigosa. desculpa, eu não deveria estar falando disso agora. extravaso porque é impossível falar disso com alguém - não é incompreensão - é falta de tato, de jeito. é um assunto abrupto. minha ladainha do "já fez seguro funeral para sua família" é uma forma de dizer "se cuida, porque a vida vira um caos de repente e você não quer se preocupar se o cartão vai passar". a vida se tornou cão, caos. mas de alguma forma, demos a volta por cima. não sei por quanto tempo pois a sensação é que tudo vai desabar em algum momento de novo. a vida é feita de ciclos. este recomeça - mas em quatro ou cinco anos - pode, catapluft, cair na minha cabeça, esmagar meu pulmão de novo, pesar sobre minha cabeça. eu não sei se aguento outras porradas dessa. ela ainda tá usando roupa de segunda mão e isso me mata. mando ela ir ao médico. falo para ela andar, pegar um sol. sabe que ela ainda não foi à piscina? posso escutar você ouvindo "eu pago esse condomínio caríssimo para vocês não usarem a estrutura?". me pego repetindo. eu quero ela feliz, quero ela sentindo a vida, degustando a vida, se é que isso faz algum sentido. mas a gente não pode provar nada por ninguém, não pode sentir a dor por ninguém. eu falei que ia cuidar dela, mas como é difícil. e as culpas, os medos, os anseios. a ausência ecoa em mim, as ausências, aliás. tudo se esvai tão rápido. os risos, os choros, o gozo. acaba. temos todo tempo que existe no mundo - nem mais, nem menos. a finitude nessa infinitude é destrutiva. eu não sei mais que vida é essa. o botão do piloto automático quebrou e eu acho que essa neblina pode revelar uma montanha imponente e fatal.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Incêndios.

tá tudo pegando fogo. lembro que achava uma loucura na aula de biologia da sétima série, aquela história louca da combustão do oxigênio e o mecanismo da respiração - como é mesmo que não pegamos fogo? o professor dizia que ó, o corpo humano é realmente perfeito. perfeito. aquilo ecoa. minha serotonina já tava negativa e eu nem sonhava. na teoria, o corpo é perfeito. na prática, nem tanto. ele é diariamente massacrado pelas notícias, pelos outros. espezinhados, me pergunto se é só metafórico mesmo. tá tudo pegando fogo. o meu peito tá em chamas e não é culpa da combustão mal feita do organismo. eu não sei se fui feita para funcionar. disse pra mim mesma que era biológico. eu gostaria incendiar, pegar fogo. a falta de tesão me irrita. a falta de tesão dos outros me brocha. a velha história do ninguém se escuta não cola mais. eu não aguento mais ouvir que as relações são vazias. tudo um discurso, aquele repeteco escroto que a gente vê no instagram. mas o instagram agora é ganha pão. por mim tacava foco no instagram. metaforicamente. tá tudo pegando fogo. as arvores, a amazonia, ano após ano. e a gente dorme à noite. a gente bebe a cerveja no bar enquanto critica um sistema falho, mas que se perpetua hora após hora. faríamos diferente? é como um hamster correndo na sua rodinha. corre até não aguentar, a rodinha continua rodando e ele é atirado pra fora pela força da gravidade - a terra não para. e tá um pouco tarde demais para discursos românticos, talvez até como esse aqui, sobre pare o mundo que eu quero descer. a vida é tiro porrada e bomba mesmo. ninguém tem pena. ninguém sabe o que dizer - e é verdade. e aí as coisas continuam pegando fogo. eu queria incendiar a minha cama. ser tomada de uma vez só por uma felicidade inútil, que se esvai em sete segundos. tá tudo pegando fogo. minha paciência virou cinza. meu tesão é carvão. não há água que apague. minha sede não pode ser cessada. a água no mundo vai acabar e a gente não vai apagar o fogo. a angustia crava dentro do pulmão que nem um boi sendo marcado. dá para ouvir o tsssss na hora que eu faço yoga e a respiração tem um passo. tá tudo pegando fogo. eu não tô brincando. em 2003 era no verão em portugal. não dava para ir na praia porque você mal via o mar. eu ia mais à praia lá do que eu vou aqui. tenho medo do mar. de tentar nadar, não respeitar as ondas e respirar água - e a queimação que dá no nariz parece que tá pegando fogo por dentro. agora é aqui. mas a vida não se consterna. ela continua. "ah, mas tem que continuar". a cabeça explode, todos os planos das coisas que eu ainda não vivi queimam um a um enquanto o ponteiro do relógio passa segundo a segundo. tá tudo pegando fogo. eu queria pegar fogo por dentro e zerar a minha existência. quando a gente morre, se não for pelas fotos e lembranças, é como se a gente sequer tivesse existido, né? tá tudo pegando fogo. a voz do meu pai me parece uma memória muito distante - acho que li em algum lugar que não é possível inventar vozes. a risada do meu irmão eu já perdi. e meu deus, que falta que faz. morrer queimado deve ser muito dolorido. não ter para onde fugir, os gritos. nos filmes medievais isso sempre me choca. algumas profecias contam que o mundo acaba em fogo. para alguns povos, acabou. como será morrer engolido por lava, o que as testemunhas oculares do vesúvio viram? tá tudo pegando fogo. um fogo apaga, o outro acende. a gente mata um leão por dia, apaga incêndio de crises que não farão diferença em 10 anos. mas essa respiração travada, pausada, não-natural... ela vai corroer os neoronios. tá tudo pegando fogo. mais uma volta em torno do sol. o sol pega fogo, dizem que um dia ele vai ficar muito grande, engolir todo mundo e se apagar. como eu quando fico explosiva - pareço que sou gigante, lato, mordo, pego fogo... mas depois sumo, me esvazio... quase que desapareço, com uma floresta devastada. tento renascer, mas as condições são inóspitas. eu não tenho solução pro mundo. eu não consigo apagar meus incêndios. não consigo apagar os incêndios do mundo. vai continuar tudo pegando fogo...? eu só sou uma só. eu não posso abraçar o mundo em chamas. eu não poderia, não conseguiria. i got loyalty inside my dna. eu me sinto culpada por não salvar o mundo, por não abraçar os meus desejos, por ter deixado meu tesão ir embora. meu tesão das coisas. eu tô no automático, indo a 300km/h contra um rochedo. vou dar de cara lá, vou explodir, vou pegar fogo. mas não vai ser suficiente. nada vai mudar. o mundo não muda, a vida continua, outro dia perguntei se isso era pro bem ou pro mal, e me responderam que só há esse jeito, o outro seria mais doloroso. incêndios... são tantos. eu sou egoísta por comparar uma floresta inteira ao meu peito? tá tudo pegando fogo. tá tudo pegando fogo. tá tudo pegando fogo. eu não ligo mais para estética. a vida travou meus processos criativos. eu perdi meu tesão. tá tudo pegando fogo. eu preciso de alguém que atravesse o fogo e me tire dali. cuide das minhas queimaduras. elas vão deixar cicatrizes para sempre. alguém que me coloque no colo e cuide, mesmo que tudo esteja pegando fogo. alguém que dê a sensação de que as chamas abrandaram. e que há esperança de florescer novamente. e ser forte, e ser bonito, e criar e procriar. eu não tenho coragem de plantar em um mundo que tá pegando fogo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Soterra.


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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Espelho.

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|  VAIDADE  |   VAIDADE   |   VAIDADE   |   VAIDADE   |   VAIDADE   |   VAIDADE    |
| VERACIDADE | VERACIDADE |  VERACIDADE |  VERACIDADE | VERACIDADE |
| VE  A  IDADE  | VE  A      IDADE | VE  A   IDADE | VE  A   IDADE | VE  A   IDADE |
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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Pare o trem.

eu tinha dezessete e você uns dezesseis quando você me tocou stop this train na beira da piscina. eu não esqueci principalmente do jeito apaixonado que eu tocava teus caracois negros e brincava com tua camisa amarelo gema lisa antes de você ir embora por um bom tempo. dont know how else to say it mas eu secretamente ainda amo como teu s soa errado. quando voce me disse que nao se apaixonaria mais eu quis stop this train go home again quando você falou dos olhos verdes que te conquistaram, os meus castanhos choraram. hoje faz tempo demais, uns sete ou oito anos, so i play the numbers to find a way to say life has just begun, e eu entendi que não é sobre o "e se": tem muito mais a ver com o que fizemos do que com o que não aconteceu - e tudo bem.só me é engraçado porque nós ainda podemos nos sentar em uma sexta feira qualquer e falar até perder a hora e nossas gargantas ficarem secas sobre nossos planos so scared of getting older im only good at being young que tudo flui, flui, flui, que nem o mar que bate lá em algum lugar incansável. o mundo gira apesar da inexistência de "nós". e eu achava que isso era impossível. mas eu desfiz esses nós e é isso que me assusta. e eu tento fingir que não é nada, i try to keep an open mind, but i just cant sleep on this tonight. eu ainda quero ouvir tua voz vibrar, que nem fazia (que nem um dia eu fiz), eu quero o teu sorriso às duas e quarenta da manhã - eu ainda sou a tua maior fã. se eu não estou mais aqui: você me desculpa?, mas é que agora eu só queria stop this train, porque a vida tá pesada - i cant take the speed its moving in - e quando voce tocava músicas da moda pra mim na beira da piscina, meu deus, eu não sabia mas a vida era doce e agora só me resta o medo de que ela nunca mais deixe de ser amarga.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Tubarões e leões.

eu nado com tubarões
eles parecem tão serenos e calmos
dançando pelas correntes marinhas
nem parece que podem
enfiar suas milhares de garras
na minha carne, em um mísero segundo
e a vida enfim
catapluf
se vai
nem parece que eles,
os tubarões, podem
me sufocar
o sangue se espalhando
nos tons mais bonitos de
vermelho
rubi, se esvai, como
uma fumaça
no meio do mar
azul
no fundo desconhecido

eu nado com tubarões
eles parecem tão inofensivos
mesmo de perto
eles vivem há 400 milhões de anos
nesta mesma terra que
a minha espécie tanto
maltrata
de inofensivos não têm nada
escolhem suas presas
de acordo com a necessidade
e não fazem mal, por assim dizer,
sem precisar
ao contrário de nós
a raça racional de todas

eu nado com tubarões e
mato um leão por dia
às vezes até mais do que um
não sei bem o porquê
minha excitação não
é porque almejo uma felicidade descabida
sequer a consigo imaginar
eu vivo matando um leão por dia
não sei bem até quando
sigo automaticamente.

as hienas vão rir de mim
no meu último respiro, suspiro,
eu talvez lembre
porque eu nadava com tubarões
e seguia ali
no meio dos leões

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Todas as formas de amor.

ele não me comprava flores
mas não dormia
enquanto não secasse
todas as minhas lágrimas.
ele não dizia eu te amo o tempo todo
mas sabia como me fazer relaxar
depois de um dia difícil.
ele não segurava minha mão na rua
mas me ensinava sobre como
amor também é sobre
entender a limitação do outro
e crescer junto.
ele não me beijava na rua
mas fazia com que eu coubesse
dentro de seus compridos braços
quando a vida ficava pesada demais.
ele não me apresentou à família
mas só parava quieto quando
me fazia sorrir quando eu estava
mal humorada.
ele não me pagava jantares
mas deixava que eu fizesse dele um ninho
quando eu era tomada por dores de cabeça e cólicas.
ele parecia não se importar
mas não colocava (tanto) coentro na comida
porque eu não gostava
e adocicou um pouco dos seus drinks clássicos favoritos
até eu entender um pouco que até o amargor tem seu momento.
por mais que eu negasse,
seu amor estava
no sabor da comida que fazíamos
na bebida que tocava os nossos lábios
no afago
e na procura.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Outros anos de amores.

eu dormi com a tv ligada
só pra não me sentir tão sozinha
assim 

mas agora eu não tenho mais tv.

- - -

que o verão
não deixe isso esfriar 
(mas parece
que o inverno 
chegou) 

- - -

você me tratava feito 
coca sem gás 
(até que você gostava) 
e eu te tratava
feio vinho
raro, único 
louca para sentir
teu gosto 
e mexer com meus sentidos 
cheia de medo 
de desperdiçar. 

e nem o biscoitinho do delivery
veio com a sorte 

não sei o que te fiz
para merecer teu nada
não sei o que te fiz
mas espero que você durma bem 
não havia uma fantasia minha 
que você não pudesse realizar
não havia nenhum sonho seu 
que eu pudesse realizar 

quase um crime
eu me deitar em lençóis 
tão frios 
sem você 

não tem depois 

- - - - - 

se eu não fui sua a musa pra
você escrever suas músicas
não me culpe por 
você ter me encantado ao ponto
de tudo que eu escrevo
ter um pouco de você

- - - - 

imagine só 
quem diria
que os nossos pra sempres
iam ser eternizados
separados. 

eu te prometi 
um pra sempre
mas você sequer
deixou eu cumprir
o que eu tinha te dito. 

eu te perguntava
onde você tinha andado
por toda minha vida
e agora que eu sei
teu nome
tua casa
teu cheiro e teus olhos
me dói saber
que eles estão por aí 
mas não são meus
e preferem andar
sem mim. 

que tua boca prefere outro nome
tua casa abriga outro coração 
teu cheiro de mistura ao dela
e que teus olhos preferem outros que não os meus.

queria que nosso amor
não valesse a pena desse horror.

- - - 

eu só não queria dormir sozinha
nessa noite tão fria 
não para de chover lá fora
as nuvens ficaram com inveja dos meus olhos
tentaram competir um pouco
mas são três dias chovendo sem parar 
chove, chove, chove 
a água se acumula na rua
alaga a garagem 
me afogo lá mesmo
sem nem enxergar direito o que me vem pela frente
enxurrada
porrada 

eu só não queria dormir sozinha
hoje 

quem sabe amanhã
eu não sei
ninguém sabe
só sei que sinto
que morro
um dia
não hoje
talvez nem amanhã

saudade
aperta
fura
o peito 
e eu nem sabia
que um sentimento tão abstrato
e relativo
podia ser tão concreto
tão duro quanto
a dor é que nem quando você rala
o joelho no chão cinza, áspero 
só que no coração 

não dá pra você 
musicar minha dor 
não dá pra você musicar
minha carta, meu poema, meu grito, minha lástima
meu amor
agora é só um show de horror
ninguém sabe o que tá fazendo
nem pra onde vai
mas tem que levantar a bunda da cama
sair do pijama velho 
ir pro trabalho
mudar de trabalho, talvez
enfiar as tristezas e as memórias num saco
(por ora)
e viver
como se o que aconteceu
fosse só um aprendizado
como quando você falha numa prova
e que você não poder repetir 
até porque, infelizmente, 
não tem como ser jubilado 
no seu amor
talvez a gente seja levado a acreditar
que somos jovens demais pra saber quem somos
só sei que amei 
e esse amor me pesa 
me deixa corcunda
não me deixa comer
ouvir musica
caminhar por aí 
sequer deixar eu escrever
(me culpo por ser mais um bando de versos sobre você) 
mal respiro, sequer
sinto falta de uma coisa que não volta
mas que volta em partes
não totalmente
não como eu quero 
pelo menos não que eu saiba
mas
ah,
se eu soubesse
se eu soubesse… 
se eu soubesse talvez
talvez houvesse nada a se fazer
se não esperar ser acertada de novo
pelo teu amor tão doce
mas
também
não posso ficar a espera
de uma felicidade
que eu nem sei se vem
se me quer

se pensa, assim, como eu, 
e também não quer passar
essa noite sozinho 
mas tem medo de assumir
porque dizer que ama
e sente falta
é pesado demais
pros orgulhosos
e pros que têm a vida pela frente
e não se podem deixar levar
por uma coisa tão
singela
boba
frágil
e sublime
tipo o amor. 

(eu só queria saber)

- - - -

a primeira vez que disse eu te amo

meu amor por você 
é simples e puro 
tal como este laço 
e a doçura dessa
sobremesa. 

não precisa 
de muitos cuidados
para ser manuseado,
talvez a superfície 
seja quebrável,
que nem vidro; 
mas é denso
e doce. 

por mais que você 
queira deixar pra lá
eu juro que 
mais uma colheirada
não vai te fazer mal algum…
pelo contrário:
só mais feliz.

não hesite.
o que tem no pote acaba
mas o que tem dentro de mim não. 

feliz dia da paixão. 

 - - - -