sábado, 13 de fevereiro de 2016

Bicicleta.

eu já tinha perdido a conta de quantos poemas eu te escrevi no canto direito do meu caderno quando você me ofereceu a primeira cerveja numa tarde esquisita de final de junho. não lembro ao certo quantas confissões olho no olho meio a um jogo de bebida fizemos. nem quantas bandas trocamos através da ferramenta de conversa da rede social azulzinha. pensava na gente andando de bicicleta e indo na cachoeira do horto, pertinho da sua casa, né? toda vez que escuto we get on da kate nash eu penso em você. primeira vez que te vi tocando violão foi numa quinta-feira à tarde, dentro da faculdade. como eu poderia me esquecer daquela vez que você me deu um abraço do tamanho do mundo, porque você não podia conter sua felicidade depois de ter assistido show das suas bandas preferidas em são paulo? queria morar ali. às vezes lembro dessa sensação quando tô me sentindo meio assim sozinha. mas aí um dia do nada quatro anos depois eu dei conta que nem andar de bicicleta direito eu sei.


"I don't ever dream about you and me
I don't ever make up stuff about us, that would be classed as insanity
I don't ever drive by your house to see if you're in
(...) And I don't know your timetable / I don't know your face off by heart
But I must admit that there still a part of me that thinks
We might get on / That we could get on / That we should get on"
(c)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Modern Family.

depois de quase dois anos, eu voltei a gargalhar com modern family. e me encontrei nos dramas pessoais dos personagens, já nem me lembrando o tolo que me fizera odiar meu próprio sorriso tempos atrás. tem um velhinho no prédio da frente que sempre toca gaita pela manhã, assim, um pouco antes do sol ficar forte demais. a sua mulher, sempre que encontro na portaria, esperando meu cachorro terminar de fazer xixi, me convida para conhecer o senhor encantador. "vai lá em casa um dia desses, ele toca gaita de verdade". eu me surpreendi com a leveza. não sabia que as pessoas ainda chamavam as outras, desconhecidas, estranhas, para "ir lá em casa". me senti no século passado - e gostei.

hoje vi uma menina correndo pelo jardim do meu prédio. tenho certeza que minha avó teria reclamado. "vai estragar todas as plantas". eu sorri. com a leveza da criança se sentindo aventureira por entre os tons de verde. não há flores, mas há plantas pontiagudas. cuidado, menina. não vá se machucar. lembrei de mim quando pequena, que adorava a natureza, a montanha, a floresta que dava pra ver do quarto dos fundos. suspirei. me pergunto se minha mãe, ao meu lado, também se viu nos passos daquela menina, nossa vizinha, com um nome familiar.

comprei um livro na semana passada, depois de uma temporada mergulhada no mundo acadêmico. é estranho ler ficção. mesmo que o autor me seja próximo - dapieve me cumprimentou na formatura há quase um mês. me pergunto porque não respeitam a minha ficção, quando me aventuro por ela. porque confundem meus versos com a própria realidade? egoísmo. o que é meu ninguém tira.

o que é meu ninguém tira. há males que devem ficar no passado, mesmo que a gente insista que eles tragam o bem. não é natural romantizar a dor. eu não preciso de migalhas dos outros. eu não preciso me perguntar porque eu não fui o suficiente - eu sou. pois em pé permaneço e, meio a tanto discurso piegas, eu não vejo outra forma de permanecer.

finalmente entendi.