segunda-feira, 30 de março de 2015

Carta aberta pro Renato.

desculpa, renato.
eu sei que você deve estar descansando
mas você pode me ouvir um pouquinho,
já que eu já te ouvi tanto nessa vida?
é que não dá pra acreditar
que não é provar nada pra ninguém
e ao mesmo tempo
amar todo mundo
como se num tivesse amanhã
porque na real, renato,
não tem mesmo não.

não sei se você se foi antes
de perceber que todo mundo
acha mais descolado se fechar,
ou se foi até você que pregou isso,
me desculpa se eu perdi um pedaço
mas é que sei lá, renato,
eu olho pra rua e ninguém sorri de volta
até o bêbado tá bolado,
tudo bem, a economia tá ruimzona
culpa é da dilma e do fhc, do collor,
costa e silva e tal
mas eu juro que sei lá, renato
tá todo mundo esquisito
a gente pede desculpa quando erra
mas ninguém aceita de verdade
é mais fácil alimentar rancor

aí, renato
aparece uma doença que te come por dentro
ou uma porrada de carro
um infarto do coração
e aí, renato?
do que adiantou?
do que adiantou gritar com alguém no telefone
às duas e meia da manhã e perguntar
"por que tá acabando?"
se o que a gente queria era só pegar o carro
dirigir a 100 por hora
e se apertar
porque o ser humano, não importa o que digam,
ou o que os céticos acreditam (até eles, pois é),
ele é feito para conviver
para sorrir pro outro na esquina.
e renato, você vá me desculpar,
mas não tem aqui ninguém melhor que ninguém, não.
não é quem você namora,
quanto teu pai ganha,
ou onde você mora que diz alguma coisa sobre você
é como você trata quem você ama
e ninguém se ama mais.

e eu não sei mais nada de ninguém.

é que todo mundo morre igual, renato
não importa. todo mundo morre e a gente só
deixa pra sentir os buracos da ausência depois
quando na verdade, a gente sente falta das pessoas
todos
os
dias
mas dizer "oi, sinto sua falta"
é completo sinal de fraqueza.
eu nunca entendi porque ser fraco é tão ruim assim.
nunca entendi porque falar pra alguém
"que guerreira é você!"
é um elogio memorável.
renato, me desculpe,
na minha cabeça
você tá aí compondo com o cazuza
(desculpe por imprimir uma expectativa em vocês)
(mas manda um beijo pra ele também se vocês tiverem me ouvindo)

renato, é que eu sempre fui buscar nas suas músicas
alguns porquês da vida
e agora eu queria que você tivesse feito uma canção,
aquela canção.
mas pela primeira vez em 21 anos, renato,
você me falhou.
eu não tô achando, tô presa nas nossas incoerências
não que isso seja ruim, não,
e aí eu pensei aqui,
de repente você ia escrever amanhã
mas seu amanhã não chegou
de repente eu queria dizer eu te amo
mas a pessoa pra quem eu precisava dizer
também não.

agora eu vou ali
ler mais algumas obscenidades
escutar mais alguns foras
pra depois tatuarem na pele, renato
"é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"
é que eles esquecem que,
na verdade
não há á á.


domingo, 22 de março de 2015

Sinfonia ortográfica.

você se exclamava tanto
com as minhas interrogações,
até me reticenciar
com um ponto final e brusco,
acabar com os travessões
todos entre mim e ti.

você me cantou um si
eu perguntei mas e se?
ora, que dó,
você deu ré.
às vezes, eu (mi) esqueço
às vezes, eu até te esqueço
é melhor virar a cara pra lá
caminhar pra ver o sol, sol, sol.
sustenido, sustentado, destemido.