quinta-feira, 27 de abril de 2017

Obsidianas V

acordei pensando muito nele. mais do que o normal. rezei. por ele, por mim, por tudo que acontece em casa e no trabalho, tudo mais que me angustia. fui pra yoga. vinha o rostinho dele e o eco da sua risada durante toda a meditação, em ondas. os dias se repetem e eu me pergunto se um dia a saudade vai mudar de gosto. de forma. não sei. só tê-lo quando fecho os olhos é bem ruim. ainda mais em dias como hoje em que a saudade aperta mais do que o normal. não é uma data diferente. faz 29 meses. parece que foi ontem, ao mesmo tempo que tem tempo demais pra ficar sem ele. quando pepe chegou, ele mudou a vida de todo mundo. quando se foi, também. eu não sei de muita coisa dessa vida, mas a principal coisa que ele me ensinou foi ser forte. e isso eu sei que sou, apesar dos tropeços. porque foi isso que fizemos durante 14 anos e continuamos fazendo até hoje. porque não houve outra opção a não ser sermos guerreiros. e é por isso que doi, quase fisicamente, quando o sujeito do restaurante me pergunta se a mesa é para três. não somos três, mal me lembro de um dia ter sido. a vida é essa há um tempo: batalhar, ser forte e vencer. eu tenho certeza que vencemos, meu amor. não há dúvidas disso, porque quando fecho os olhos eu só lembro do som da risada. mas tem dia que a saudade aperta pra cacete. de um jeito que não cabe na gente e ao mesmo tempo esmaga. então, hoje, queria ter pulado na cama dele e ter dado logo um apertão para começar o dia com uma implicância de irmãos. mas não dá. então a gente reza. e pede por luz, muita luz. porque ele saberia resolver qualquer uma das angústias atuais e, mesmo que ficasse nervoso, sacudia pra lá. então a gente reza mais, e pede por mais luz. nos últimos 29 meses, não houve uma vez que ele não tenha ajudado.

domingo, 23 de abril de 2017

agora.

eu não sei se meu aperto de mão é forte e confiante o suficiente. também não sei se o plano de carreira que escolhi é suficiente e vou ter que abrir mão dos bares com os meus amigões pra pagar a conta de luz no mês que vem. tem muita coisa que mudou nos últimos dois anos e eu ainda não entendo muito bem sobre o termo ser adulto. todo mundo ainda tá fazendo piada sobre isso como se fosse algum tipo de teoria como foi o aquecimento global que ninguém levava a sério mas tá aí (alguns ainda duvidam, mas são uns ignorantes). a vida se encarrega de colocar as coisas no lugar e tudo vai ficar bem. eu tenho certeza que sim. tudo é um processo. casa, previdência, trabalho, família, amor. o horóscopo do mês de abril era aterrorizante. mas eu não acredito em horoscopo. mas sempre leio. porque vai que. conselho nunca é demais. eu tô deixando meu cabelo crescer como se fosse algum tipo de processo de autoconhecimento assim como foi cortar tudo fora. eu ainda tô aprendendo sobre o efeito das palavras dos outros em mim e sobre o efeito das minhas palavras nos outros. e penso muito sobre empatia e gratidão - duas palavras que aparentemente já tão virando supervalorizadas e exageradas e superusadas - mas que significam muito. eu não tenho muito mais tempo pra escrever e agora entendo quando tinha 15 e todos aqueles que eu admirava acima dos 25 não tinham mais tempo pra escrever. eu me perguntava como podia. esse texto por exemplo eu comecei em outubro do ano passado e agora já faz quase seis meses. agora eu entendo. quando tem tempo, não tenho saco. é mais fácil procrastinar no feed do instagram, olhar foto de comida e daquele garoto bonitinho do colégio que tá mais gato ainda e ai meu deus que estrago que eu faria nele. as coisas se ajeitam. não tem outra opção não se ajeitar. eu continuo me apaixonando facilmente por caras que têm a guitarra como musa número um e eu nunca vou poder competir com elas. mas faz parte. papai não assiste mais o jogo do flamengo porque diz que não aguenta mais o time atual, mas eu sei que ele espia de vez enquanto. eu continuo odiando o vasco porque todos os cara que eu realmente gostei eram vascaínos. isso deve ser mentira, mas é deles que eu lembro quando eu vejo o vasco jogando. papai de vez enquanto toca violão e isso aquece meu coração. não é fácil chegar no restaurante e pedir mesa pra três. nem pedir lula a dore. pepe amava sair domingo e pedir lula a dore. aí eu vou lá e peço e como e espero que ele esteja bem. mas como faz falta o quarto prato na mesa. parece besteira. mas não é. estaria se preparando pra fazer vestibular. me pergunto se faria engenharia como achamos que faria. ou design de games. ou qualquer outra coisa nada a ver porque não tinha como saber, já que você se foi tão novo. os tempos não são fáceis, mas já foram mais difíceis. eu ainda tenho uma dificuldade surreal em escrever a palavra difíceis.  eu ainda me pergunto se vou ter coragem de escrever um livro antes do 30. ou se vou ter coragem de planejar minha viagem e fazer isso sozinha como algum tipo de experiência de auto conhecimento assim como tem sido deixar o cabelo crescer. mas a grana tá curta. minha desculpa é sempre é essa. e ainda assim eu torro meu dinheiro em cerveja e chocolate. eu amo meu trabalho, mas às vezes ele me assusta. estava de saudades de textos que não cabem no bloco. tem tempo que eu não me apaixono de verdade e às vezes até que bate saudade da sensação. mas passa. hoje faz frio e eu sinto que devia voltar pra terapia. porque amanhã parece que vou enloquecer. tipo panela de pressão. tipo aquela crise de ansiedade que parece que nunca acaba. eu sou hoje melhor do que ontem. queria ter tempo para ouvir toda a discografia do ney matogrosso. queria aprender a tocar violão e fazer vídeo pro instagram. quem sabe assim você me nota. mas vontade de me apaixonar dá e passa. e eu não preciso que você me note. mas às vezes dá aquela vontade. mas vontade dá e passa. e você não usa rede social. depois que eu comecei a viver um dia de cada vez as coisas melhoraram consideravelmente. mas dá saudade de um tempo mais simples. quando dava pra brincar de lego. quando dava pra ver jogo com o vovô. antes de eu decidir parar de tomar coca porque aquilo realmente pode te matar. porque a gente chega numa idade que, apesar de pouca, começa a pipocar um bando de mini coisinhas que vão ser preocupantes aos 35. será mesmo que eu não vou querer ter filhos biológicos? será mesmo que eu vou ser bem sucedida? aliás, assim como aquelas aulas de filosofia perguntavam: o que é ser bem sucedido? o que é ter sucesso? o que é ser feliz? é quando tá tudo bem, né? tá tudo bem. agora. agora tá tudo bem. é o que importa. agora.