domingo, 27 de julho de 2014

Georgia.

De tempos em tempos você volta. Simplesmente, que nem quando você se foi, numa tarde esquisita de agosto. Deixou um recado no meu celular: "eu não consigo me despedir de você, a gente se fala quando eu chegar lá". A gente se fala, de seis em seis quando você volta pra cidade. Mas nada pessoal. "Você não vem me ver?". Nada impessoal. Tocou uma música nova via skype para mim numa madrugada de fevereiro. "O que você achou?". Parecia que você fazia de propósito, tanto verso bonito para dizer que não era eu. De tempos em tempos você volta. Volta falando que os sonhos do passado tão se tornando verdade mas você não sabe o que fazer agora que o futuro chegou. De tempos em tempos você volta dizendo que quer voltar para casa. A casa que não sou eu mas é perto de onde eu estou. Você me avisa numa noite de julho: "tô num bar, você está por perto?". É o convite daquele que não quer se encontrar. Horas depois, com uma quantidade de álcool exagerada nas veias, o telefone toca, às quatro da manhã. "Não é isso que eu quero pra mim". Não tem nada de romântico nisso. De tempos em tempos você volta. Falando um bando de coisa sem sentido. Somos menos estranhos hoje do que éramos antes. São milhas e mais milhas que separam Georgia do Rio. Te achei perto do posto 9 e te cantarolei ao pé da orelha, baixinho "I'll go down as your lover, your friend". Você sorriu e eu fui dar um mergulho nas minhas certezas. Porque elas, pelo menos, são minhas. De tempos em tempos você volta, mas não pra valer. E de tempos em tempos, meu garoto, eu me pergunto o que acontece quando você voltar, o que você vai me dizer. E, como toda vez que acontece quando eu me despeço de você, me lembro que nada disso faz diferença. Somos só mais dois, uns... mais um, cada um. "Não tem essa tem estar perdido sem você". Eu sei que você sabe o caminho.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

3:51.

é que o relógio marca três e cinquenta e um
e eu queria escrever
mas agora já não sei é tarde
ou cedo demais.

sábado, 19 de julho de 2014

Sensatez.

É aquela velha história, uma revistinha infantil diria bem: "mentira tem pernas curtas". Por sinal, sempre bem curtinhas. E quem as tem se esconde até a hora que não dá mais. Aliás, é fácil se achar bem esperto, mas acaba dando um passo maior que a perna pequena, até que uma hora, puff, o mundo se desmancha sobre as cabeças. Ninguém tem culpa, pensou ele. Tropeçou. É tanto plano pro futuro que tudo se perde na covardia de nem conseguir pegar um ônibus diferente pro trabalho. "Nem sei o que mentira tem a ver com isso." Mentira. Sabe sim. Tolos são aqueles que acham que mentindo fica mais fácil, vai negligenciar, sei lá, omitir problemas futuros e aí tudo vai ficar bem, porque depois a mentira não vai importar mais. Mentira: mentira sempre importa. Talvez até mais que a verdade, em certos casos. Não existe nenhuma situação no mundo na qual seja melhor mentir. Anda pra lá e pra cá, mas acho que se o mundo é justo, existe uma lei que diga que se você mentir sobre um crime, sua pena aumenta. "Que se exploda o controle de danos!" Às vezes é uma questão de assumir: chega de inventar dualismos irreais só pra criar um dilema e dizer que precisa de mais tempo para tomar uma decisão. Isso é bem triste, pensou ele, enquanto andava pela praia de copacabana: todo mundo diz que não precisa de "mais um problema", mas na verdade as pessoas não sabem viver sem eles. É aquela velha história do mal do século, da busca eterna da felicidade. "Quem era que dizia? Era Freud? Não me lembro." Mas tinha alguém que dizia que o ser humano é quase incapaz de ser feliz. "E às vezes eu quase acredito nisso". Digo, temos estados de felicidade, mas a tão famosa felicidade plena seria quase catastrófica para o mundo: qual seria o motor da história se todo mundo tivesse finalmente alcançado seus objetivos? Sorte que o ser humano é ganancioso, quer sempre mais do que precisa e aí vira um ciclo interminável. De mentira também: porque de tanto acreditar que não dá pra ser feliz, tem que se convencer que pode ser feliz sim e tem que buscar isso dia após dia, porque na real aquela felicidade pode ser uma cilada do destino, digo, não ser felicidade verdadeira. "É mentira". Então vai lá e larga isso que você tá fazendo e busca uma coisa melhor, reclamou ele. E assim a gente perde algo que era essencialmente bom. Mas "bom" não é suficiente pra quem quer ser feliz de verdade! A busca contamina tudo que a gente faz, vai do amor à comida. E aí nunca acaba. E se em algum momento você tem a sorte de imaginar que talvez tenha dado certo, você vai se sentir triste porque "um raio não atinge duas vezes o mesmo lugar". E aí sai em busca daquilo de novo, de novo e de novo e se frustra e chora e se contenta com o que der. Até descobrir que se contentar é errado e que uma hora a felicidade aparece ali, olha ali ela. E aí ele usa energias que não tem pra ir atrás dela. Só que aí vem o sublime. Foi tanta felicidade que ele até… morreu. Êxtase. "Me senti tão vivo". Só que ele morreu sem saber. Que o raio atinge o mesmo lugar. Duas, três, várias vezes. E nada é melhor do que levar um choque de sensatez na cabeça.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

FIFA.

Vai ver que nosso amor só não era Padrão FIFA.
Não tem porque ter vergonha
se nem os craques conseguiram.

domingo, 13 de julho de 2014

Chama ela pra sair.

Chama a garota do verão retrasado pra sair,
não eu, a outra, aquela que você queria conseguir. 
A da festa num lugar obscuro
nem um pouco seguro. 
Mas vê se dessa vez 
você toma uma posição
pra que nem tenha um talvez
e você seja capaz de conquistar
em vez de chegar lá e amarelar

Pergunta pra ela do disco do Soundgarden, 
do bar novo do baixo botafogo,
pra ver se você se esquece de mim. 
Você merece, cê tá tentando tão bem 
e isso porque você diz que não queria ser cruel. 
Ela provavelmente nutre sua fantasia 
e agora que você vai voltar para a academia
teu amor antigo que você diz que sentia
vai sumir que nem ventania.

O nome dela é Madalena, pequena, 
não se preocupe: não vou fazer cena. 
Vou sumir, serena. 
Mesmo sem querer,
mesmo sem reaver
esse amor todo que eu sinto por você, 
sem porquê, nem fuzuê. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sentimentos parede.

oi e aí como vai você? eu vou bem, obrigada. vi um filme outro dia que me lembrou você talvez você fosse gostar mas agora me esqueci o nome. legal essa banda que você me falou há dois meses mas eu só tive tempo de ouvir agora. engraçado que eu falava que precisava de tempo pra mim mas agora tenho tempo demais e nada me entretem por muito tempo, tudo é muito chato e a comida tem toda o mesmo gosto. o tempo passa, mas sinto sua falta. desculpa, esqueci que é crime dizer que sinto alguma coisa, seja amor, seja saudade. fiz de novo, ó. é força do hábito, vou engolir da próxima vez. deixa pra lá. se liga, vamos ver o jogo do flamengo num bar com a galera toda quando o campeonato brasileiro voltar. vai ser uma algazarra, uma tristeza só mas aí depois a gente pode falar besteira na mesa do bar, brincar com garçom e não rachar mais a conta igualmente como antes. não tô aqui pra reviver o passado nenhum, deus me livre, não me entenda mal, é que se for agora eu também não te quero mais, mas é o futuro assim mesmo, ele assusta. não sei de muita coisa, e da parte que eu sei eu não gosto. eu tirei o quinto prato da pilha e o copo amarelo foi pro fundo do armário. guardei aquele anel no potinho na minha cômoda. você precisa vir buscar suas coisas antes que eu roube aquela blusa preta que eu gosto tanto. eu nunca usaria ela mas tem quase um charme poético em ter coisas do ex em algum cabide. sabia que agora as bananas não vão mais pro lixo? convenci a comprarem cachos menores. tava aqui pensando como aquele casal gay de modern family se casou; se o garotinho não vai pirar com os zumbis, depois me conta como foi. difícil tá sendo os domingos sem game of thrones, sem sorvete depois do almoço. eu tô aqui falando sozinha porque você já se foi faz tempo mas eu ainda cá estou e pode ser que um dia você volte e por algum acaso a gente esteja na mesma página e aí vai ser só… bem, não sei o que vai ser porque eu não sei do dia de amanhã, você também não, mas me avisa quando você voltar, porque aí a gente dá uma volta e a vida é uma roda e só ela dirá... 

... é que pra mim não tem papo de nunca mais.