sábado, 19 de julho de 2014

Sensatez.

É aquela velha história, uma revistinha infantil diria bem: "mentira tem pernas curtas". Por sinal, sempre bem curtinhas. E quem as tem se esconde até a hora que não dá mais. Aliás, é fácil se achar bem esperto, mas acaba dando um passo maior que a perna pequena, até que uma hora, puff, o mundo se desmancha sobre as cabeças. Ninguém tem culpa, pensou ele. Tropeçou. É tanto plano pro futuro que tudo se perde na covardia de nem conseguir pegar um ônibus diferente pro trabalho. "Nem sei o que mentira tem a ver com isso." Mentira. Sabe sim. Tolos são aqueles que acham que mentindo fica mais fácil, vai negligenciar, sei lá, omitir problemas futuros e aí tudo vai ficar bem, porque depois a mentira não vai importar mais. Mentira: mentira sempre importa. Talvez até mais que a verdade, em certos casos. Não existe nenhuma situação no mundo na qual seja melhor mentir. Anda pra lá e pra cá, mas acho que se o mundo é justo, existe uma lei que diga que se você mentir sobre um crime, sua pena aumenta. "Que se exploda o controle de danos!" Às vezes é uma questão de assumir: chega de inventar dualismos irreais só pra criar um dilema e dizer que precisa de mais tempo para tomar uma decisão. Isso é bem triste, pensou ele, enquanto andava pela praia de copacabana: todo mundo diz que não precisa de "mais um problema", mas na verdade as pessoas não sabem viver sem eles. É aquela velha história do mal do século, da busca eterna da felicidade. "Quem era que dizia? Era Freud? Não me lembro." Mas tinha alguém que dizia que o ser humano é quase incapaz de ser feliz. "E às vezes eu quase acredito nisso". Digo, temos estados de felicidade, mas a tão famosa felicidade plena seria quase catastrófica para o mundo: qual seria o motor da história se todo mundo tivesse finalmente alcançado seus objetivos? Sorte que o ser humano é ganancioso, quer sempre mais do que precisa e aí vira um ciclo interminável. De mentira também: porque de tanto acreditar que não dá pra ser feliz, tem que se convencer que pode ser feliz sim e tem que buscar isso dia após dia, porque na real aquela felicidade pode ser uma cilada do destino, digo, não ser felicidade verdadeira. "É mentira". Então vai lá e larga isso que você tá fazendo e busca uma coisa melhor, reclamou ele. E assim a gente perde algo que era essencialmente bom. Mas "bom" não é suficiente pra quem quer ser feliz de verdade! A busca contamina tudo que a gente faz, vai do amor à comida. E aí nunca acaba. E se em algum momento você tem a sorte de imaginar que talvez tenha dado certo, você vai se sentir triste porque "um raio não atinge duas vezes o mesmo lugar". E aí sai em busca daquilo de novo, de novo e de novo e se frustra e chora e se contenta com o que der. Até descobrir que se contentar é errado e que uma hora a felicidade aparece ali, olha ali ela. E aí ele usa energias que não tem pra ir atrás dela. Só que aí vem o sublime. Foi tanta felicidade que ele até… morreu. Êxtase. "Me senti tão vivo". Só que ele morreu sem saber. Que o raio atinge o mesmo lugar. Duas, três, várias vezes. E nada é melhor do que levar um choque de sensatez na cabeça.

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