segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Outros anos de amores.

eu dormi com a tv ligada
só pra não me sentir tão sozinha
assim 

mas agora eu não tenho mais tv.

- - -

que o verão
não deixe isso esfriar 
(mas parece
que o inverno 
chegou) 

- - -

você me tratava feito 
coca sem gás 
(até que você gostava) 
e eu te tratava
feio vinho
raro, único 
louca para sentir
teu gosto 
e mexer com meus sentidos 
cheia de medo 
de desperdiçar. 

e nem o biscoitinho do delivery
veio com a sorte 

não sei o que te fiz
para merecer teu nada
não sei o que te fiz
mas espero que você durma bem 
não havia uma fantasia minha 
que você não pudesse realizar
não havia nenhum sonho seu 
que eu pudesse realizar 

quase um crime
eu me deitar em lençóis 
tão frios 
sem você 

não tem depois 

- - - - - 

se eu não fui sua a musa pra
você escrever suas músicas
não me culpe por 
você ter me encantado ao ponto
de tudo que eu escrevo
ter um pouco de você

- - - - 

imagine só 
quem diria
que os nossos pra sempres
iam ser eternizados
separados. 

eu te prometi 
um pra sempre
mas você sequer
deixou eu cumprir
o que eu tinha te dito. 

eu te perguntava
onde você tinha andado
por toda minha vida
e agora que eu sei
teu nome
tua casa
teu cheiro e teus olhos
me dói saber
que eles estão por aí 
mas não são meus
e preferem andar
sem mim. 

que tua boca prefere outro nome
tua casa abriga outro coração 
teu cheiro de mistura ao dela
e que teus olhos preferem outros que não os meus.

queria que nosso amor
não valesse a pena desse horror.

- - - 

eu só não queria dormir sozinha
nessa noite tão fria 
não para de chover lá fora
as nuvens ficaram com inveja dos meus olhos
tentaram competir um pouco
mas são três dias chovendo sem parar 
chove, chove, chove 
a água se acumula na rua
alaga a garagem 
me afogo lá mesmo
sem nem enxergar direito o que me vem pela frente
enxurrada
porrada 

eu só não queria dormir sozinha
hoje 

quem sabe amanhã
eu não sei
ninguém sabe
só sei que sinto
que morro
um dia
não hoje
talvez nem amanhã

saudade
aperta
fura
o peito 
e eu nem sabia
que um sentimento tão abstrato
e relativo
podia ser tão concreto
tão duro quanto
a dor é que nem quando você rala
o joelho no chão cinza, áspero 
só que no coração 

não dá pra você 
musicar minha dor 
não dá pra você musicar
minha carta, meu poema, meu grito, minha lástima
meu amor
agora é só um show de horror
ninguém sabe o que tá fazendo
nem pra onde vai
mas tem que levantar a bunda da cama
sair do pijama velho 
ir pro trabalho
mudar de trabalho, talvez
enfiar as tristezas e as memórias num saco
(por ora)
e viver
como se o que aconteceu
fosse só um aprendizado
como quando você falha numa prova
e que você não poder repetir 
até porque, infelizmente, 
não tem como ser jubilado 
no seu amor
talvez a gente seja levado a acreditar
que somos jovens demais pra saber quem somos
só sei que amei 
e esse amor me pesa 
me deixa corcunda
não me deixa comer
ouvir musica
caminhar por aí 
sequer deixar eu escrever
(me culpo por ser mais um bando de versos sobre você) 
mal respiro, sequer
sinto falta de uma coisa que não volta
mas que volta em partes
não totalmente
não como eu quero 
pelo menos não que eu saiba
mas
ah,
se eu soubesse
se eu soubesse… 
se eu soubesse talvez
talvez houvesse nada a se fazer
se não esperar ser acertada de novo
pelo teu amor tão doce
mas
também
não posso ficar a espera
de uma felicidade
que eu nem sei se vem
se me quer

se pensa, assim, como eu, 
e também não quer passar
essa noite sozinho 
mas tem medo de assumir
porque dizer que ama
e sente falta
é pesado demais
pros orgulhosos
e pros que têm a vida pela frente
e não se podem deixar levar
por uma coisa tão
singela
boba
frágil
e sublime
tipo o amor. 

(eu só queria saber)

- - - -

a primeira vez que disse eu te amo

meu amor por você 
é simples e puro 
tal como este laço 
e a doçura dessa
sobremesa. 

não precisa 
de muitos cuidados
para ser manuseado,
talvez a superfície 
seja quebrável,
que nem vidro; 
mas é denso
e doce. 

por mais que você 
queira deixar pra lá
eu juro que 
mais uma colheirada
não vai te fazer mal algum…
pelo contrário:
só mais feliz.

não hesite.
o que tem no pote acaba
mas o que tem dentro de mim não. 

feliz dia da paixão. 

 - - - - 

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Cerejeira.

Meu amor não é que nem uma cerejeira.
Ele não floresce lindo na primavera, colorido e perfumando o ar.
Muito pelo contrário.
Meu amor mais parecia com um cacto do que com qualquer coisa delicada.
Muito porque, eu passei muito tempo sob condições inóspitas,
reservando dentro de mim o que me fazia bem e
"espinhando" qualquer coisa que tentasse me machucar.

Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

(fevereiro 2014)