quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sócrates estava certo.

Mal deixamos as pessoas terminarem as frases ultimamente. Não é que queiramos falar, mas é que simplesmente não queremos mais ouvir. No entanto, não hesitamos em vomitar o que pensamos por aí, mesmo sem bom senso. O discurso é vazio e repetitivo. Pensar cansa e ninguém consegue mais dormir.  Queremos paciência, tempo e mais um bando de coisas mas não há foco pra nada. 

Tempo é perdido questionando o passado, imaginando porque nossos grandes amigos e grandes amores estão presos no ontem. Talvez eles simplesmente não mereçam um lugar no agora. E é estranho pensar que os grandes amigos e amores de hoje não pertençam necessariamente ao amanhã. O amanhã não é uma garantia e o passado já passou da validade. 

Perdemos o hoje com prazos, com a correria pra pegar o ônibus, pra chegar mais rápido em casa, para terminar de fazer o que “tem que fazer”. Temos pressa pra não fazer nada, pra ir pra cama pra ficar rolando de um lado pro outro, pensando nas mil besteiras que fizemos e falamos, nos sapos que engolimos e nas respostas que podíamos ter dado. 

Aparentemente, só nós mesmos somos sinceros, o resto é lorota. Afinal, furar fila da padaria nos faz mais malandros. Reclamações são constantes: no verão preferimos o inverno, e no inverno a gente quer praia. Dizemos não nos deixar levar pelos publicitários e filmes de romance. O experiente é mais atraente que o inocente.

Preferimos escolher o que quer sentir do que simplesmente sentir; desabafar com um estranho e pagar uns trocados do que se abrir numa mesa de bar. Queremos carinho, mimo, dizer que precisamos, que vamos chorar senão formos amados - ao invés, dizemos que vivemos bem sozinhos. Nos negamos demais. Fingimos que não nos importamos, porque aparentemente se importar indica fraqueza. Dizemos não nos acomodar. Nos escondemos em corações de pedra, sorrisos quadrados e infinitos discursos de "sou melhor que isso" ou "não preciso disso".

Tem aquele medo de parecer vulnerável e eu me pergunto porquê. Talvez nos envergonhamos de dizer que o mundo está ficando maluco mesmo e a gente está ficando junto. Aparentemente, a razão é mais digna de se ouvir do que o coração. 

A realidade nos assusta e nos jogamos na superficialidade. É tanto medo de se machucar que talvez jamais saberemos se a dor não valia a pena, se é que iria doer. Estamos perdidos, mas todo mundo parece saber apontar uma direção. A gente se prende ao não se prender. 

Perdemos tanto ficando presos numa cidade só, frequentando sempre os mesmos lugares, vendo a mesma gente. Tem um mundo com 7 bilhões de pessoas e nos sentimos mal quando nos apaixonamos pelo cara que 'tá sentado do nosso lado no ônibus. Parece que estamos vivendo de verdade, mas não conhecemos nem metade das pessoas, das sensações, dos lugares! Não vimos todas as obras, não lemos todos os livros, não ouvimos todas as músicas - que dirá ter sentido tudo isso. 

Parece que simplesmente "somos jovens" e isso serve de justificativa para alguma coisa. Para viver? Idade não me parece tirar esse direito. E nos achamos velhos e por isso sabemos de tudo: só pela idade? Viver não é um número. Nos preocupamos com a dengue mas não botamos terrinha no vasinho; com a memória mas ninguém monta quebra cabeça no tempo livre; com o câncer mas ninguém passa protetor solar antes de sair de casa; a gente diz que tem insônia mas acorda às quinze querendo dormir às dez.

Achamos, mas não encontramos. E no final das contas, perdemos. A gente esquece de como é bonito um sorriso sincero, da força das palavras e de como é bom chorar às vezes. Esquece que não tem nada de errado em precisar de alguém e que é bom cuidar e ser cuidado. E que é bom sentir o sol na pele, o vento, a areia nos pés, o cheiro da chuva. Coisas pequenas fazem a diferença. 

Nós não notamos a vida passar. E em vez de entregar-se à vida, a gente acaba a entregando por aí.

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