domingo, 13 de maio de 2018

borboleta.

eu abro os jornais, e eu leio as notícias e isso me dá medo. como pode tanta coisa ruim acontecer. será que eles focam no ruim ou é só a gente que só quer se negligenciar. é preciso ver as coisas belas da vida, eu penso. outro dia tava no carro, vi uma borboleta linda, cheia de vida planando no ar, pensei comigo como as coisas podem ser simples - e são. de repente vem um ônibus e leva a coitada, a imprensa no vidro e a arrasta por sei lá quantos quilômetros na jardim botânico. me pergunto se ela se recuperou da vida atropelando ela ou se suas asas foram cortadas por um descuido da vida, uma intervenção do homem em uma natureza tão bonita. como podem as coisas serem tão desequilibradas se viemos da natureza e a natureza é tão perfeitamente amarrada. e são nessas horas que eu juro que eu não me aguento mais. não me aguento sentir que bra da; um erro de conceito; uma falha no sistema - pane no sistema alguém me desconfigurou - do corpo inteiro, de uma vida inteira. vida, não é ela uma dádiva. por que tanto medo? eu juro que as vezes minhas células tremem de tanto medo. medo. medo do tempo. do vento, da chuva, de tanto sol. do que passa no relógio. que passa, passa, passa, foge da mão, (des)controla a nossa existência. medo de não pagar as contas, medo de não dar conta, medo de não chegar lá. lá onde. não sei. mas sei que estamos todos indo a algum lugar. tem muita coisa no mundo que eu quero ver antes dos 30. e os 30 tão logo ali, gritando. e depois, o quê? o ataque do relógio biológico, a contínua quase certeza de que morreremos sozinhos. eu digo que está tudo bem, é que está mesmo, mas não entendo de onde vem todo esse medo. medo. medo que me lembra toda vez que estou bem. que talvez não esteja. que nunca achei que ia estar sozinha de verdade porque teria meu irmão, mas meu irmão não tá mais aqui. e todo o resto, assim como isso, não me define. minhas incertezas não me definem - que dirá as certezas que mudam tanto. eu gostava de verde agora já não sei se gosto tanto assim. hoje já gosto de azul mas amanhã já não sei tanto assim. meu armário continua tendo - somente - uma peça de roupa rosa e eu não sei como mas isso me caracteriza de alguma forma. eu aprendi finalmente a tomar café sem açúcar e eu jurava que isso jamais aconteceria. minhas certezas não valem nada. nada. eu não tenho controle absolutamente de nada nessa vida - não sei onde deixo minhas escovas de dente e tropeço nas minhas indecisões sobre gostar de alguém de novo. tem uma ditadura esquisita que diz que deveríamos seguir determinados padrões mas ainda ainda assim não termos raízes e sermos livres - como aquela borboleta. mas a vida nos atropela, sem dó nem piedade, que nem o ônibus. tem vezes que eu nem olho pros dois lados da rua ao atravessar. eu não quero ter minhas asas machucadas - tampouco sei se sei voar.

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