é 2015 e ainda tá tocando gangnam style na tv. eu li outro dia que i will always love you era o hit do ano de mil novecentos e noventa e três, o ano que eu e você nascemos. hoje eu olhei para a árvore maltratada daqui da frente de casa e pensei no vovô, que adorava ficar sentado olhando a vida passar. acho que foi de tanto carregar pesos a vida toda. eu deito no travesseiro e me arrependo do meu pedido um dia ter sido querer virar adulta. ser adulto é uma droga. tem conta, tem imposto, tem trânsito, tem um bando de coisa que me impedem de esperniar para conseguir o que eu queria. eu nunca esperniei entre gôndolas de um supermercado ou da toy r us, quando eu tinha esse direito irritante. hoje eu queria bater pé no meio da ataulfo de paiva ou no meio da voluntários. você não vai me beijar não, i will always love you. e a vida tá assim, nossos amigos agora são adultos e têm horários e louças a lavar. e os primeiros sinais de barba branca e calvície começam a surgir. dizem que vamos piscar nossos olhos e teremos cinquenta anos. eu não quero mais crescer. me falaram que esta é a idade ideal. eu acho que são apenas números, pouco me importam as rugas que surgem debaixo dos meus olhos. às vezes, eu paro pra me olhar no espelho e nem sei mais quando me tornei eu, formada, filha única de novo. devia ter uma denominação pros irmãos que perdem irmãos. eu comecei a escrever esse texto em 2015 e agora já foi quase um quarto do ano novo que já tá ficando velho. agora todo mundo parece estar aceitando justin bieber. velho, velho, velho. todo mundo fala de idade mas quando que isso passa a ser conhecimento e experiência. eu já nem sei mais quais são meus questionamentos. não sei. corro pela rua com medo de assalto, com medo de encontrar com aquele carinha que não vejo desde 2009. não aguento mais ver gente falando que tenta ser o mais correta e adorável possível mas que na primeira chance de ser desagradável, pá, deixa os outros no chão. meu deus do céu, deve ser muito cansativo estar certo o tempo todo. deus me livre e guarde. me deixa eu estar errada e errar. me permite. me perdoa. é que vai acontecer. mas aceita que todo mundo é humano, inclusive você e que todo mundo pega a metralhadora de mágoas de vez em quando. vejo fotos dos meus amigos viajando e queria viajar mas não posso porque a conta não fecha e eu não tenho feriadão. queria comprar um presente legal pra mim mesma mas eu acho que eu devia juntar dinheiro porque tem crise, sei lá, vai que acontece alguma coisa. pressão, pressão. vamos tomar uma cerveja ali na voluntários. ah, não. leblon é mais perto. vamos ali na ataulfo. que ataulfo o quê. eu gostaria de ter esperniado na ataulfo algumas vezes. mas pirraça não adianta de nada, né. o telefone toca, o whatsapp pisca, pisca na tela. o carnaval passou mas ainda juro que vejo confete no chão. o povo é corajoso. quero me apaixonar por um estranho. quero começar do zero, mas sem perder eu mesma de novo, porque se perder é muito ruim. se esquecer também.
aí nisso a gente tenta parar, lembrar, sei lá, até que um dia eu sonho e tô lá, entre a esquina imaginária da ataulfo com a voluntários, onde você me beija e eu te digo i will always love you. você pega e vira as coisas como um milhão de vezes antes e mostra esse texto pra sua nova garota.
tudo está nos conformes.
sábado, 5 de março de 2016
Aranhas.
esses dias joguei um casaco que eu tinha desde 2007 fora. da polo, cinza, rasgado, foi-se junto com a minha camisola verde favorita. eu não sei direito como essas coisas ficaram no meu armário tanto tempo. quando enfiei as peças na sacola, pensei em todos que os tocaram enquanto os vestia. não lembro de todos, provavelmente. eu usei aquele casaco para ir pra escola uma época. faz tempo. também usei para secar lágrimas do meu segundo-primeiro amor. tem coisas tão importantes que se foram tão fácil. agora eu tenho um cachorro. quando eu tinha sete anos meu maior medo eram aranhas e cachorro. eles me cercavam quando ia à pé pra escola. não entendia porque os portugueses abandonavam seus melhores amigos no verão. agora eu sei que seres humanos abandonam quem for quando bem lhes convém. junto com a camisola verde perdi o preconceito e passei a gostar mais do que toca na rádio. afinal, como é que backstreet boys se tornou um clássico? agora eu acordo, tomo banho, vou pro trabalho, volto, como, vou dormir. e não é mais vazio lá dentro. alguma coisa me completou, eu não sei se foram as músicas, as séries, os filmes, a lambida do tom sábado a tarde ou a certeza de que a vida ainda tá para acontecer, mesmo que agora pareça que a gente tenha que saber de tudo. sem ter dado tempo de ter processado alguma coisa. os telefones do escritório tocam. 23 emails não lidos. tá tudo funcionando.
acho que não cresci tanto assim porque ainda tenho medo de aranhas.
acho que não cresci tanto assim porque ainda tenho medo de aranhas.
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