quinta-feira, 30 de abril de 2015

Quinta-feira a noite.

eu queria que você tivesse deixado alguma coisa, para quintas-feiras à noite como essa. só pra lembrar do cheiro que a pipoca tinha misturado ao vento vindo da praia, com a música da nossa série favorita tocando ao fundo. eu queria que você tivesse deixando alguma coisa, um recado, uma mensagem. tô indo mas eu volto. sempre volto, e como eu queria que você, mesmo sem sequer ter ido, tivesse ficado. mas eu volto toda quinta-feira à noite. volto para a nossa primeira quarta-feira a noite, aquelas letras de música no telão, que nos levou à nossa quinta de manhã. o oi desconsertado, a vontade de querer mais. e que vontade. agora eu fico aqui, pequena, querendo, culpada, agarrada ao travesseiro enchendo a cara de vinho barato, sem ter uma canção de ninar quando o mundo parece ridiculamente pesado sem motivo aparente, sem o cafuné na cabeça, sem a tua mão na minha. eu queria que você tivesse deixado alguma coisa, só pro nosso amor não parecer aquela coisa louca de quando você acorda e não sabe se sonhou ou se foi verdade. esse pesadelo sem você é longo demais, me acorda. não é que nem a bela adormecida não, com beijo e tudo. é só com um ei, tô aqui te fazendo um suco de sei-lá-que-mistura que seu pai te ensinou quando você tinha uns quinze anos. queria que você tivesse deixado alguma coisa, tipo a chave da sua casa ou uma blusa velha. não é por nada não, mas é que eu queria te apresentar ao meu cachorro e falar um pouco do novo cd do blur. queria que você tivesse deixado alguma coisa, para eu te convidar para vir buscar, você conhecer meu quarto novo e sei lá, você reclamar da parede branca onde eu vou te contar que vai ter um quadro lindo dos beatles que vou ganhar. agora você já sabe. queria que você tivesse deixado alguma coisa. uma palavra, um convite pro café, um beijo no canto do lábio. queria que você tivesse deixado alguma coisa, para quinta-feira a noite, que fosse a blusa do flamengo no chão, no pé da tua cama. que fosse alguma coisa. mas hoje, quinta-feira a noite, não tem é nada.

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