Uma vez eu sai com um garoto e eu não deixei que ele pagasse meu café. Era a nossa terceira "saída": a primeira vez, quando nos conhecemos; a segunda quando nos beijamos e a terceira ali, acompanhados de uma penca de gente que caçoaria da gente se nos vissem de mãos dadas.
Já era tarde e depois de sair do restaurante de quase todas sextas-feiras, me bateu vontade de tomar um café. Entrei na única cafeteria aberta que tinha por perto e, é claro, Romeu me seguiu. Adiantou-se à minha frente, abriu a carteira mas se sentiu impotente frente à tanta opção de café. "Nossa, pra mim um espresso já basta". Não a essa hora, meu amigo. Chega pra lá que eu resolvo isso.
Me virei. Romeu tinha os olhos confusos e olhava para mim curioso. Era um bom moço. Cavalheiro, do tipo que você leva para casa da sua avó no almoço do dia seguinte pós-Natal. Romeu fazia juz ao seu nome, seja lá o que isso queria dizer. Ele falava em "roubar beijos delicadamente", mas de certo, faltava-lhe coragem.
Meu café eventualmente veio errado e semanas mais tarde eu descobri, encostada no carro de Romeu, que a doçura da bebida não era tão gostosa quanto os lábios dele. Macios, divertidos. Era bem fácil gostar de Romeu. Difícil era lidar com a falta de adrenalina em um mundo tão agitado quanto o nosso.
Romeu realmente remetia, não só pelo nome, a uma outra época. Quando as tardes se arrastavam e as noites eram estreladas. E sua natureza desacelerada era desconcertante e praticamente incômoda. Não era possível alguém ser tão letárgico em pleno século vinte e um.
Ou, talvez, eu que fosse afobada demais; e não era a Julieta de Romeu. Talvez o que tivemos estivesse mais para um amor de verão; alguém para observar o fim de tarde e o céu alaranjado, dar uns beijinhos, deixar na porta de casa e tudo bem, foi legal nosso casinho de final de semana.
Só sei que, por ora, o café esfriou. E não houve quem o requentasse.