terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Velho do Joá.

Era a saída do túnel do Joá, chegando na Barra. "Sorria, você está na Barra da Tijuca". Dificilmente, ainda mais com esse trânsito, seu prefeito. Lá fora do ônibus tinha um vento agressivo, prometendo um dia cinza. Minha cabeça virou-se para a esquerda para ver o mar. Antes, todas aquelas rochas na encosta, com aquelas casas lá em cima, de tão difícil acesso. Meus olhos foram passeando por entre as árvores, ruaszinhas e casas e encontraram, numa das pedras, com formato de banco, já quase no asfalto da pista de baixo, um senhor negro, já bem velho, sentado com um boné de aba vermelha e um coberto cinza e peludo sobre ele. Seu olhar estava num ponto fixo da Lagoa-Barra, mas parecia, no fundo, estar esperando algo ou até mesmo alguém, mesmo que seus olhos não se movessem.

Não conseguia imaginar quem ele poderia estar esperando. Quem poderia ter o deixado, em primeiro lugar, e ter deixado o velho naquela situação? Não estava acompanhado. Sim, era um mendigo, daqueles que parecem viver há anos nas ruas e sim, tinha aquela aparência de quem pegava qualquer trocado por um tico de pinga. Não tem que ter vergonha de assumir que há milhares na cidade. Tem que ter vergonha é que ninguém faz nada sobre isso. 

Tentando imaginar o quão cruel era o sujeito que tinha enfiado aquele "Sorria" frente a um engarrafamento tão longo, eu só queria chegar em casa, almoçar, ver minha mãe, meu irmão. Eu estava, vamos dizer assim, sem desrespeito ao moço do outro lado da estrada, com muita fome. Tinha pesquisas a fazer, prazos a cumprir, matérias para escrever. Eu tinha até uma lista na minha agenda. Minha vida parecia ocupada. Então eu olhei de novo para aquele sujeito sentado à beira de uma auto-estrada. 

Ele via carros, ônibus e pessoas indo e vindo, chegando e voltando de algum lugar, tão ocupadas e compromissadas, como eu, que planejava uma entrevista de emprego. Como a senhorinha do meu lado no ônibus, que voltava de Copacabana depois de visitar sua netinha e agora tinha a casa toda para arrumar quando chegasse. E então tinha aquele homem, parado do outro lado, parado no tempo para nós. Me perguntei o que ele esperava. 

Então, me dei conta: alguns correm pela vida, outros só esperam por ela.

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