quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Covardia.

Enfiei suas coisas numa mochila porque achei que você não voltava mais. Chorei porque não acreditava. Não acreditava em mim, nem muito menos em você. Não tinha motivos pra desacreditar, mas a vida e os clichês me enchiam de medo. Foi covardia sim, mas palavras não bastariam. Eu te escrevi mil poesias como se não houvesse mais nós, por acaso. Não posso chegar na sua casa com chocolate ou um buquê de margaridas, não há nada que eu possa fazer para dizer que eu preferia ter mordido a língua e ter sangrado a rispidez do que ter dito aquelas palavras. Eu só queria que tudo ficasse bem, mas nem sempre a gente sabe o que é o bem. As vozes me diziam que isso não parecia bom, mas tudo parecia compensar depois de te ver sorrindo pós um beijo de boas vindas. É díficil, é inconstante, não dá pra adivinhar. Somos humanos, eu, você, eles, as garotas da sala ao lado, os rapazes do ano passado. Não há nada que me impeça de correr pros teus braços às 2 da manhã com a exceção de alguns quilômetros que se multiplicam quando o orgulho grita. Minha cena favorita é quando eu te boto encostado no peito e você cantarolando beatles pra lá e pra cá. Mentira, minha cena favorita é você vidrado em música, mas eu tenho um pouco de inveja dela. E só dela. Refiz a cena imaginária na minha cabeça, eu entrando no seu quarto, abrindo "minha gaveta", jogando tudo num saco e não conseguindo dizer adeus pros seus pais. Dizem que a vida é simples, mas ninguém para de reclamar das complicações. Às vezes dizem que mesmo quando duas pessoas se amam isso não é suficiente. Não dá pra saber. O amanhã futuro é incerto assim como nós. Mas por ora só me basta esta noite: se eu tentar ir embora, eu te imploro, vê se me segura, vê se não demora. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Velho do Joá.

Era a saída do túnel do Joá, chegando na Barra. "Sorria, você está na Barra da Tijuca". Dificilmente, ainda mais com esse trânsito, seu prefeito. Lá fora do ônibus tinha um vento agressivo, prometendo um dia cinza. Minha cabeça virou-se para a esquerda para ver o mar. Antes, todas aquelas rochas na encosta, com aquelas casas lá em cima, de tão difícil acesso. Meus olhos foram passeando por entre as árvores, ruaszinhas e casas e encontraram, numa das pedras, com formato de banco, já quase no asfalto da pista de baixo, um senhor negro, já bem velho, sentado com um boné de aba vermelha e um coberto cinza e peludo sobre ele. Seu olhar estava num ponto fixo da Lagoa-Barra, mas parecia, no fundo, estar esperando algo ou até mesmo alguém, mesmo que seus olhos não se movessem.

Não conseguia imaginar quem ele poderia estar esperando. Quem poderia ter o deixado, em primeiro lugar, e ter deixado o velho naquela situação? Não estava acompanhado. Sim, era um mendigo, daqueles que parecem viver há anos nas ruas e sim, tinha aquela aparência de quem pegava qualquer trocado por um tico de pinga. Não tem que ter vergonha de assumir que há milhares na cidade. Tem que ter vergonha é que ninguém faz nada sobre isso. 

Tentando imaginar o quão cruel era o sujeito que tinha enfiado aquele "Sorria" frente a um engarrafamento tão longo, eu só queria chegar em casa, almoçar, ver minha mãe, meu irmão. Eu estava, vamos dizer assim, sem desrespeito ao moço do outro lado da estrada, com muita fome. Tinha pesquisas a fazer, prazos a cumprir, matérias para escrever. Eu tinha até uma lista na minha agenda. Minha vida parecia ocupada. Então eu olhei de novo para aquele sujeito sentado à beira de uma auto-estrada. 

Ele via carros, ônibus e pessoas indo e vindo, chegando e voltando de algum lugar, tão ocupadas e compromissadas, como eu, que planejava uma entrevista de emprego. Como a senhorinha do meu lado no ônibus, que voltava de Copacabana depois de visitar sua netinha e agora tinha a casa toda para arrumar quando chegasse. E então tinha aquele homem, parado do outro lado, parado no tempo para nós. Me perguntei o que ele esperava. 

Então, me dei conta: alguns correm pela vida, outros só esperam por ela.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

À lá vonté

Na primeira vez
que você segurou minha mão
você cantou i wanna hold your hand
e me disse o quanto os beatles estavam certos;
e depois daquilo, nada foi em vão
fomos despertos.