segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SimPliCIDADE.

Tem gente que diz que o povo do sudeste é mais receptivo. Bem, eu não sei a quem eles se referem, mas eu sei que aos paulistas, por culpa tempo frio, ou sei lá, não é. Eles usam óculos escuros durante o café da manhã e não sorriem para as pessoas na rua. Numa cidade que vive de negócios e vive com turistas e empresários (se estressados, problema deles), o mínimo que eu pedia era um sorriso. Até porque, para mim, cara feia é fome. Todo mundo parece estar com muita pressa, até no final de semana. 

Apesar de toda antipatia (minha, por eles e deles, para mim), sempre achei que São Paulo tinha muitas opções de restaurantes, bares e museus. A variedade sempre me pareceu maior. Arte é sempre arte, tudo bem, mas eu gosto mesmo é de sair andando por aí. Ver como as coisas funcionam. Meus pés podem até reclamar, mas... Feirinhas, por exemplo? É comigo mesmo: conversar com os vendedores (quase sempre moradores da cidade há anos, já com certa idade - a voz da experiência!) e ver o comportamento da gente da rua!

Lá estava eu, naquela feirinha. Só de coisas antigas, que nem aquela lá da Praça XV lá do Rio. Não lembro do nome da rua, nem muito menos do bairro. São Paulo me confunde, perco o senso de direção. Os prédios me parecem todos imponentes - e mesmo assim iguais; as casas e muros estão sempre pichados. Me parece suja e, mesmo assim, altamente valorizada - marcada por algo mais confuso que seu funcionamento caótico.

Eu me reconheci meio àquele bando de coisa antiga. Vi uma réplica de uma caixinha que meu avô tinha, um tapete igual ao da minha outra avó. Tinha tanto talher, tanto espelho, tanto isqueiro, canivete... tudo aquilo tinha a história de alguém, escondida na poeira incrustada, no reflexo da prata polida, no pedaço lascado do móvel antigo. Mesmo detalhado, parecia ter perdido a funcionalidade dentre tanta tecnologia do novo milênio.

Que criança não tinha brincado com aquele Goku já escurecido pelo tempo? Umas miniaturas de Power Ranger - iguais àqueles do meu primo, com quem eu tinha brincado quase 15 anos antes - jogadas ali. E os brinquedos mais antigos, que nem o próprio feirante sabia como funcionava? - "Tá com pilha, quer ver como joga?", ele me ofereceu. Chego a hesitar em chamar aquele aparelhinho de eletrônico. Ao tocar, senti que tinha em mãos algo que revolucionou uma época.

Se hoje eu brinco com as crianças próximas sobre como elas nunca rebobinaram uma fita cassete ou mal entendem como um disquete podia ser útil a alguém, eu me peguei pensando se tivesse um senhor ali que me zombasse só porque eu não sabia como aquele game boy dos anos 50 funcionava. Mas como vivemos num mundo em que a tecnologia faz o simples parecer complexo, parece que meus olhos falham em enxergar a simplicidade da coisa. 

E dentre os vasos, as canetas de pena, os telefones de disco e tudo mais, afundada numa cidade que parece estar mais acelerada do que os seus habitantes poderiam suportar, me perguntei aonde perdemos o primor pelo simples. Por que os telefones de disco saíram de moda e agora estão voltando? Foi só a estética?

Bom, e se feiras e lojinhas de antiguidades continuam por aí, talvez sempre estaremos presos àquela velha história nostalgia de um tempo anterior. Estar insatisfeito com o presente é recorrentemente um câncer do mundo "atual em questão". As pessoas vão achar alguma saudade do passado, a simplicidade mágica que as fez esquecer dos problemas que as atormentavam. O futuro parece guardar soluções, como se de alguma forma o dia-a-dia não se repetisse daqui a alguns anos. 

Estamos sufocados entre tempos distantes que, na teoria e ilusão, guardam a solução para as nossas angústias. Apesar de um presente ser ganho todos os dias, ele é perdido no tic-tac de um relógio - seja ele digital ou de cuco. Isso porque nossos desejos estão deturpados pela complexidade de uma vida corrida e cegos para a simplicidade e beleza da pureza.

Um comentário:

  1. Gostei demais desse texto. Me identifiquei bastante. Eu amo feirinhas, especialmente essas no estilo Praça XV. Acho que vivo em eterna nostalgia, pelo o que vivi e pelo que nunca pude nem vou poder viver, por lugares que ainda não pude conhecer. Vai ver por isso estudo história. A história por detrás de cada objeto me fascina bastante, quando paro pensar.. é uma sensação parecida quando eu olho pra uma pessoa na rua e realmente a enxergo, sabe como é? Ela tem uma história também. E pra completar, tenho implicância com São Paulo. To falando bobagens, né? Só queria dizer que leio sempre seu blog (:
    Besoo

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