Matei uma esperança
no espelho do meu banheiro.
Ela era tão verdinha
e tão jovem;
e eu, como ela,
mas tão pálida.
domingo, 23 de março de 2014
sábado, 8 de março de 2014
Caixa de mensagens.
A batida do meu coração pode não ser ajustada com os tu tu tu da chamada ao celular, mas cada toque até a caixa postal é uma facada, uma atrás da outra, pequena, sorrateira, que não parece letal mas que vai matar por hemorragia. Qualquer dia eu conto quantos são. As palavras que eu queria falar vão amargando na base da língua; as dúvidas vão esbarrando na felicidade enquanto a espera de meio minuto arrasa com a expectativa de ouvir tua voz. Uma, duas, quatro, sete. Vem a culpa, depois uma vergonha. A vergonha se transforma em raiva, raiva de parecer tão estúpida. A batida do meu coração acelera, mas os tututu da chamada não. Agora parece que tem menos tututu, mas o tempo de espera ainda é longo. São sete tututus.
Eu ligo sabendo que vai ser à toa, finjo que sei mas no fundo quero me surpreender. Agora já nem lembro o que queria falar, já pensei em tudo que está errado, já recalculei minhas jogadas, já repensei minhas chances. Teu telefone toca no bolso, em cima da cama, no chão do quarto de outra mais uma vez. Ecoa no modo silêncio da gritaria do lugar. Aqui eu, esperando. Vai ver você só tá dormindo. 'Tava no banheiro, sei lá. Tu tu tu. Facada. Ameaça, pra mim, para nós. Poderia me enfiar nas cobertas, dormir até você retornar, mas e se o telefone não tocar? Espero o celular dar um sinal de vida que nem esse que espero seu. Tu tu.
Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens. Deixe a… Desligo. Mané mensagem, se nem apertar o botão verde ele consegue? Encaro a minha cara na tela do aparato tecnológico. Ridícula, pasmem, o cúmulo da dependência. Eu só queria dar um oi e dizer que não vou para sua casa amanhã. Mas dando tanta saudade agora que eu juro que ia. Não é que eu não queira, mas é que não sou trouxa. As dez ligações na sua tela diriam o contrário. Atende, é só apertar o botão. A batida do meu coração adoraria ser interrompida levemente pela surpresa da ausência do próximo tu.
Marcadores:
já fui melhor nisso,
madrugada a dentro,
mas ein?,
nao atende
Assinar:
Postagens (Atom)