terça-feira, 29 de outubro de 2013

Briguei com a rosa.

Me assusta que eu tenha a rosa mais bonita do jardim nas mãos e ainda assim não tenha perdido o desejo insano dos homens de destruir e arrancar, uma por uma, cada pétala. E me dá dó, que logo você, meu amor, se pareça tanto, mas tanto, com a última rosa da minha jardineira.

sábado, 26 de outubro de 2013

Te-me perder.

Hoje faz um ano que eu desisti de você. 365 dias desde que me forcei a te ver por aí e não me importar mais com o teu sorriso torto. Não ligo mais se ouço tua voz pelos corredores; se o telefone toca não é o seu nome que eu espero ver no visor. Tenho dó porque você nunca saberá o quanto eu te procurei na TV, que eu te escrevi um poema numa terça-feira à noite. E (não) saber, meu bem, vai ser sempre o maior erro que deixamos de cometer. Mas deixa estar. Meus lábios agora têm outros donos, meu sorriso pertence a outros alguéns. Não me importa se você sente remorso em me ver de mãos dadas por aí com um rapaz que não se parece nada contigo. 

Era só um jogo. Nosso placar jamais sairia do zero a zero. Parece empate, mas foi derrota. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Te incomoda que me incomoda?

Tinha um problema bem aqui, deixando tudo meio dormente, mas focando tudo naquele lugar ao mesmo tempo; fazendo meu coração bater rápido, meu pulmão parecer apertado, meus dedos não parecerem firmes; me impedindo de escrever, de pensar em coisas boas. 

Tinha algo insignificante, na verdade. Eu nem sei, não tinha sentido. De repente, um desconforto crescente foi me tomando; foi me tirando o sono, me deixando irritada durante o dia, me tirando a capacidade de raciocinar; que fazia meu estômago revirar, minha cabeça doer e latejar. 

Tinha um problema bem aqui. Observei, inerte, enquanto ele se transformava quase como uma nuvem cada vez mais negra agora já relampejando, os trovões começam a me atordoar, me enchem de medo e agora eu já nem saio mais da cama. Alguém me cobre?

Tinha um problema bem aqui - agora ele está me cercando, eu o vejo em todo o lugar;  ele precisa ser cortado pela raiz, mas a minha tesoura está sem fio. Eu não sei como me livrar dele. Eu precisava tanto de ajuda... Não tem ninguém.

Tinha um problema bem aqui. Aqui. Perto. Perto demais! Me debato, como um cachorro tentando se secar, tentando tirá-lo de cima de mim; me pressionando para ser alguém que não sou; me pressionando para fazer coisas que eu não quero fazer. Sai, sai, sai!

Tinha um problema bem aqui - alguém veio e me entregou uma vassoura. Mas ela era pesada e eu fiquei com a mão calejada. 

Tinha um problema bem aqui, até que alguém veio com uma pá e não deixou que eu varresse tudo para debaixo do tapete.  Me ajudou a jogá-lo fora. Viva, minha alergia sumiu! De repente, não sei onde ele foi parar.  Acho que se evaporou, no processo contrário ao que surgiu. Não sei direito o que aconteceu; o que viu. 

Tinha um problema bem aqui. Aquele que tanto me atormentava... Ele se... foi. Meu peito deveria estar vazio, livre! Mas eu só consigo pensar para aonde ele foi, quando (e não se) ele vai voltar... 

Espera! O que é aquilo na esquina?

Tem um problema ali...

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Traída.

o nome do jogo é o mesmo:
paciência ou solitário;

a carta era pra você
mas tava endereçada pro seu adversário.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SimPliCIDADE.

Tem gente que diz que o povo do sudeste é mais receptivo. Bem, eu não sei a quem eles se referem, mas eu sei que aos paulistas, por culpa tempo frio, ou sei lá, não é. Eles usam óculos escuros durante o café da manhã e não sorriem para as pessoas na rua. Numa cidade que vive de negócios e vive com turistas e empresários (se estressados, problema deles), o mínimo que eu pedia era um sorriso. Até porque, para mim, cara feia é fome. Todo mundo parece estar com muita pressa, até no final de semana. 

Apesar de toda antipatia (minha, por eles e deles, para mim), sempre achei que São Paulo tinha muitas opções de restaurantes, bares e museus. A variedade sempre me pareceu maior. Arte é sempre arte, tudo bem, mas eu gosto mesmo é de sair andando por aí. Ver como as coisas funcionam. Meus pés podem até reclamar, mas... Feirinhas, por exemplo? É comigo mesmo: conversar com os vendedores (quase sempre moradores da cidade há anos, já com certa idade - a voz da experiência!) e ver o comportamento da gente da rua!

Lá estava eu, naquela feirinha. Só de coisas antigas, que nem aquela lá da Praça XV lá do Rio. Não lembro do nome da rua, nem muito menos do bairro. São Paulo me confunde, perco o senso de direção. Os prédios me parecem todos imponentes - e mesmo assim iguais; as casas e muros estão sempre pichados. Me parece suja e, mesmo assim, altamente valorizada - marcada por algo mais confuso que seu funcionamento caótico.

Eu me reconheci meio àquele bando de coisa antiga. Vi uma réplica de uma caixinha que meu avô tinha, um tapete igual ao da minha outra avó. Tinha tanto talher, tanto espelho, tanto isqueiro, canivete... tudo aquilo tinha a história de alguém, escondida na poeira incrustada, no reflexo da prata polida, no pedaço lascado do móvel antigo. Mesmo detalhado, parecia ter perdido a funcionalidade dentre tanta tecnologia do novo milênio.

Que criança não tinha brincado com aquele Goku já escurecido pelo tempo? Umas miniaturas de Power Ranger - iguais àqueles do meu primo, com quem eu tinha brincado quase 15 anos antes - jogadas ali. E os brinquedos mais antigos, que nem o próprio feirante sabia como funcionava? - "Tá com pilha, quer ver como joga?", ele me ofereceu. Chego a hesitar em chamar aquele aparelhinho de eletrônico. Ao tocar, senti que tinha em mãos algo que revolucionou uma época.

Se hoje eu brinco com as crianças próximas sobre como elas nunca rebobinaram uma fita cassete ou mal entendem como um disquete podia ser útil a alguém, eu me peguei pensando se tivesse um senhor ali que me zombasse só porque eu não sabia como aquele game boy dos anos 50 funcionava. Mas como vivemos num mundo em que a tecnologia faz o simples parecer complexo, parece que meus olhos falham em enxergar a simplicidade da coisa. 

E dentre os vasos, as canetas de pena, os telefones de disco e tudo mais, afundada numa cidade que parece estar mais acelerada do que os seus habitantes poderiam suportar, me perguntei aonde perdemos o primor pelo simples. Por que os telefones de disco saíram de moda e agora estão voltando? Foi só a estética?

Bom, e se feiras e lojinhas de antiguidades continuam por aí, talvez sempre estaremos presos àquela velha história nostalgia de um tempo anterior. Estar insatisfeito com o presente é recorrentemente um câncer do mundo "atual em questão". As pessoas vão achar alguma saudade do passado, a simplicidade mágica que as fez esquecer dos problemas que as atormentavam. O futuro parece guardar soluções, como se de alguma forma o dia-a-dia não se repetisse daqui a alguns anos. 

Estamos sufocados entre tempos distantes que, na teoria e ilusão, guardam a solução para as nossas angústias. Apesar de um presente ser ganho todos os dias, ele é perdido no tic-tac de um relógio - seja ele digital ou de cuco. Isso porque nossos desejos estão deturpados pela complexidade de uma vida corrida e cegos para a simplicidade e beleza da pureza.